26.6.04

O despudor é tão grande e a diferença tão nítida

Nunca simpatizei particularmente com a figura de Guterres. Sempre me pareceu, que o homem tinha mais de humanista cristão ou cristão democrata (Não. Não me estou a referir ao CDS) do que de socialista. Mas quando olhamos para os últimos 2 anos em que, governados por um governo tão durão com o povo mas com portas abertas para.... ..... (enfim é melhor não ir por ai, se não ainda me confundem e põem a tocar o cd que canta as piadas sobre as cassetes comunistas) e agora chegamos a este momento em que, ao que parece, temos de rezar para Sant’ana para não virmos a ser governados por Santana, o Pedro, lembramo-nos do velho ditado: bom de mim fará quem atrás de mim vier.

O despudor desta gente é enorme:
Dizem que é uma honra para Portugal ter um português a ocupar cargo de tamanha importância. Sim, de facto é uma honra, uma honra dada pelos países grandes da Europa, a um português que é durão em Portugal, mas macio e maleável lá fora, para que este sirva, uma vez mais, os seus interesses. Na realidade, Barroso não é a primeira escolha. É o consenso a que se conseguiu chegar.

Os 3 principais países da Europa querem Durão porque os outros 22 (Portugal incluído) não sabem bem quem é Durão. Barroso viverá assim no corpo da Europa, como uma espécie de microorganismo comensal e protector: ou seja não provoca mal, nem directamente porque não tem patogenicidade intrínseca, nem indirectamente, porque não tem capacidade de provocar anticorpos (só mesmo os portugueses é que têm alergia a Durão). O futuro ocupante do “cargo” é de tal forma inofensivo que até a ousadia da cimeira dos Açores já foi esquecida. Durão será assim usado para impedir a proliferação de outros microorganismos mais perigosos: os Países que reivindicam e avançam iniciativas e propõem alterações ao que está mal. Se preferirem uma metáfora mais simples e directa, mas pouco original: Durão será o mordomo da mansão europeia.

Argumentam, os despudorados, que ser um português a ocupar “o cargo” trará benefícios para Portugal. Mas sinceramente alguém acredita nisto? Que benefícios? E em relação a quem? Portugal saíra beneficiado em relação a Inglaterra, França, Alemanha e Espanha? ou será em relação a República Checa, a Eslováquia, a Estónia e a Lituânia? Acham que a Itália beneficiou tendo o Sr. Prodi como presidente da comissão? O único benefício para Portugal é um ténue reforço da sua frágil auto-imagem lusitana. O triste é que os que argumentam sobre os tais benefícios, são os mesmos que defendem a Europa construída a 25 vozes em que todas devem cantar ao mesmo volume. Agora já querem um pouco mais de “pré-amplificação” não é? Hipócritas. É o que vocês são.

E eu que até nem gostava do Guterres tenho que dizer que diferença é nítida:

1º Guterres também teve a oportunidade de ser presidente da comissão europeia (aposto que já ninguém se lembra), mas recusou porque tinha um mandato e um programa de governo a cumprir. Já o “homem da tanga”, que até há bem pouco tempo dizia que vinha para salvar o pais do deficit, para pôr ordem nas contas públicas, para baixar os impostos, para acabar com as listas de espera, para fazer a justiça a funcionar, para criar cientistas que possam um dia ganhar prémios Nobel, e para construir um grande e novo aeroporto, logo que deixasse de haver criancinhas a passar fome em Portugal, já o homem da tanga, dizia eu, vai-se porque numa manhã em que se olhava ao espelho e apertava o nó da gravata verde e vermelha com o qual iria ao estádio da luz gritar “Força Portugal” pensou para consigo “ oh Zé, com essa elegância toda, você parece mais presidente da comissão europeia do que primeiro-ministro de Portugal!”

2º Guterres, dizem eles, fugiu. Na realidade, sentiu que os resultados das eleições autárquicas eram uma moção de censura dos portugueses ao governo e a ele em particular, por isso demitiu-se recomendando ao presidente que convocasse eleições antecipadas. Ora parece-me, mas se calhar sonhei, que os resultados das últimas eleições europeias, foram sobretudo uma moção de desconfiança ao governo da força. Mas como é o Darth Vader da coligação que vai para fora, então não está a fugir, está a conquistar. Eis o que pensa Durão: “Eu sou o maior! Vou conseguir ser presidente da comissão europeia, meto o Pedro como primeiro-ministro e o Prof. como presidente da república. O céu é o limite e eu estou a chegar lá”. Infelizmente para os portugueses se Santana Lopes for primeiro-ministro será o chão o limite.

PS – Dizia-se que Durão estava refém de Portas, afinal é Sampaio que tem estado refém de Durão: Não hesitou em convocar eleições quando Guterres se demitiu e agora cede a chantagens: “Vou para Bruxelas prestigiar Portugal mas tu tens que criar as condições”. “Sim senhor. Vá ser durão lá fora, se faz favor”.


Sacha Joffre


1 Comments:

At 3:19 AM, Anonymous Anonymous said...

Viva o Abre!

Er.

 

Post a Comment

<< Home