Louçã e Freitas , por Eduardo Prado Coelho
Louçã
O que ocorreu no debate entre Louçã e Portas foi obviamente uma derrapagem do mais celebrado parlamentar português, e do único líder que tem mantido uma imagem sempre positiva nas sondagens. Não está em causa os valores de liberdade e o sentido democrático que dominam hoje os dirigentes do Bloco de Esquerda. Só por má-fé se pode compreender a vaga de indignação reaccionária que veio chamar a Louçã "reaccionário". Neste domínio, ninguém menos apropriado do que Bagão Félix para vir falar em "neofascismo". Desconheço qual é o passado antifascista de Bagão Félix e suspeito que esta ânsia de encontrar a palavra mais radical seja apenas uma tentativa para esconder o descalabro do Orçamento que apresentou e a forma atabalhoada com que concluiu a sua presença na governação: era difícil fazer pior, sobretudo quando se tinha uma imagem de rigor e competência.
Mas Louçã errou. Veio aplicar a um debate televisivo entre dois políticos o princípio caseiro de "Bem prega Frei Tomás, fazei como ele diz e não como ele faz". Ora, felizmente na política portuguesa, as referências à vida particular de cada um têm sido cuidadosamente banidas. É um princípio saudável, que se deve manter, sobretudo em áreas que têm a ver com os comportamentos "morais" das pessoas.
O aspecto positivo da atitude de Louçã está no facto de, sem dizer que a frase estava fora do contexto, ter tido a coragem de afirmar que não tinha utilizado a melhor fórmula e aceitar ter cometido um erro argumentativo e pessoal. São raros os políticos que são capazes de reconhecer os seus próprios erros. E, no entanto, todos nós erramos.
Freitas do Amaral
Freitas do Amaral tem tido um percurso errático? Esse adjectivo que Raul Vaz utilizou aos microfones da Antena 1 parece-me inadequado. Errático é o comportamento de Santana Lopes, que de manhã diz que não vai voltar a atacar o Presidente da República, e à noite esquece-se e desata a disparar sobre Sampaio. Errático é um comportamento aos ziguezagues.
Ora, o que sucede com Freitas do Amaral é um percurso que o aproxima da esquerda, mas um percurso coerente, e cada vez mais marcado pela preocupação pelo interesse nacional.
Já tenho mais dúvidas em relação à coerência de Pinto Balsemão, quando diz na televisão que irá votar pelo seu partido, o PSD. Nota-se que evita dizer o nome de Santana Lopes. Mas, se Balsemão considera, como deixa entender, que Santana Lopes e o seu grupo são maus governantes, o que é que deveria fazer em nome do interessa nacional? Abster-se, votar branco, mas não ceder a um partido que tem à frente alguém com quem não compartilha nem o estilo, nem as convicções.
O texto de Freitas do Amaral na "Visão", exprimindo o seu apoio inequívoco a Sócrates, é, por um lado, o reconhecimento de um erro: o projecto Durão Barroso-Paulo Portas não trouxe nenhuma das soluções de que o país necessita. É, por outro lado, uma posição sincera e firme em nome dos interesses do país tomada por um homem livre de sujeições em relação à lógica torturada dos partidos. Constitui desde já um dos acontecimentos fundamentais desta campanha.
Felizmente há quem escreva -bem- o que, nós outros, não conseguiriamos jamais de forma tão clara e simples dizer.
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