Só Elis
Com a excepção de cinco minutos de uma música no festival de Jazz de Montreux, nunca antes tinha visto imagens de Elis Regina. Nem a cantar e muito menos a falar sobre o que quer que fosse.
Já estava a espera que o dvd “Elis Regina MPB especial-1973” fosse de facto algo especial. Só não sabia não sabia quão especial, nem de que maneira.
As imagens são a preto e branco, o som apesar de totalmente restaurado continua a ser mono (porque com a tecnologia actual é impossível voltar a mixar o que foi gravado directamente num só canal). Mas tudo isso não é importante e não deve demover ninguém de adquirir este DVD. Porquê? Eis os motivos:
1. Porque ver Elis Regina [acompanhada por César Camargo Mariano (piano), Luisão (baixo elec) e Paulo Braga (bateria)], tocando as músicas que ela escolheu, entre as melhores dos melhores compositores brasileiros, com os arranjos de César Mariano é um privilégio.
2. Porque, não sei se por limitações técnicas da época ou por intencionalidade do realizador, podemos ver a face de Elis quase sempre em grande plano e então, finalmente perceber um pouco o que a torna uma cantora inigualável. As expressões faciais de Elis são de uma riqueza e intensidade tais, que se percebe que não há verso que ela diga sem intencionalidade, sem o estar de facto a sentir ou a invocar o sentimento referido. Elis canta com intencionalidade e intensidade. Gostaria de conseguir explicar-me melhor, mas talvez só vendo.
3. Entre as músicas, Elis fala. Fala de si, do seu trajecto, dos compositores que canta e da relação com eles (Edu Lobo, Gilberto Gil, Chico Buarque, Milton Nascimento, Tom Jobim). E fala da vida. Da sua vida, da sua experiência, do seu sentir, das suas mágoas. Fá-lo com um desassombro, com uma transparência tal que chega a ser doloroso assistir. Porque custa ver fragilidade e a dor ser assim exibida, como uma glória.
Percebemos então que Elis é assim e só sabe ser assim: Verdadeira. Está ali cantando ou falando, disposta a rasgar a sua própria pele, a morder a sua própria carne,. Que coragem é preciso ter. Como Elis, talvez só Billie Holliday.
Este dvd é daquelas coisas que tem que se ter. Como um tesouro. Mas, assim como Kind of Blue de Miles Davis, ou o Desassossego de Bernardo Soares, não deve ser visitado muitas vezes. São obras demasiado intensas e – arrisco - demasiado honestas, merecem nada menos que a nossa total atenção. Pelo que não devem ser introduzidas nem banalizadas no quotidiano do dia-a-dia.
1 Comments:
Sou um fã da Elis e considero-a a melhor cantora que alguma vez existiu. Façam um favor a vós próprios e oiçam a grande e fantástica, a «minha Frank Sinatra» ELIS REGINA.
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