22.2.05

Intimidação

O homem ainda nem teve tempo de descer das nuvens e recolocar os pés no chão e já todos o estão a querer desafiar, intimar e até intimidar.

Ontem foi Louçã, que na onda de euforia – dever ter confundido o discurso que tinha preparado caso o PS não tivesse maioria absoluta – e já lançou desafios nomeadamente um novo referendo ao aborto.

Hoje foi Francisco Van-Zeller da CIP dizendo que mexer no código do trabalho é “desenterrar o machado de guerra”. (literalmente)

Entretanto as duas centrais sindicais já vieram dizer, claro, que esperam que de facto a nova maioria mexa mesmo em alguns pontos do código do trabalho.

Louçã, penso, está a ser precipitado. O referendo do aborto tem que ser bem preparado. A questão tem que ser despolitizada ao máximo. E deve-se tentar usar da pedagogia e da tolerância. Não se pode correr o risco de voltar a perder. Por isso querer fazer um refendo já este ano é para mim insensato.

Quanto a CIP e a Van-Zeller, a intimidação é de manifesto mau gosto. A CIP nem sequer tem a desculpa de Louçã – euforia numa noite de quase triplicação de votos. Por isso devem evitar repetir este tipo de discurso e dar a iniciativa a quem a deve ter esperando que seja o futuro governo a chama-los.

Já no caso das centrais sindicais a coisa é um pouco diferente: na realidade, parecendo que estão também a fazer exigências, limitam-se a reivindicar o que o PS disse que faria: Não revogar o código, mas mudam alguns pontos. Ora esta posição é na realidade uma ajuda – no caso da CGTP inesperada – pois de certa maneira desarma a argumentação do PCP que queria a revogação completa com o argumento, que até tem alguma lógica, de que se o PS votou contra o Código e portanto agora tem de ser coerente.

Seja como for, o homem vai ter de aprender a responder ao estilo filme de acção de Nova Iorque: Are you talking to me? Do you want a piece of me? Come on!

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