Sem legitimidade para comentar
Não faço comentários de circunstância nem me mostro chocado.
Por todo o mundo, governos, parlamentos e partidos enviaram mensagens de pesar e condolências aos habitantes de Londres, ao povo britânico.
Jornalistas, fazedores de opinião, bloguistas desdobram-se em comentários, análises e considerações. Leio que «90 minutos após a primeira deflagração, já tinham sido colocados na Internet 1300 posts sobre os atentados, de acordo com o site Technorati»
Durante os últimos meses, no Iraque, têm morrido, quase todos os dias, pessoas, vítimas do mesmo terrorismo, da mesma Al Quaeda, vítimas também de outras organizações e de outros – não menos execráveis – terrorismos. Algum governo, parlamento ou partido envia mensagens de pesar e condolência as famílias dessas pessoas? Teria de faze-lo quase todos os dias, bem sei. Pois é, estamos habituados a vê-los morrer. Jantamos vendo essas imagens na televisão. O horror do “lado” “deles” não nos choca. Já quase nem é notícia.
Tivemos imensas oportunidades de fazer comentários, análises e considerações. Tivemos várias oportunidades de nos mostrarmos chocados. Eu, que no passado não o fiz, sei e sinto que agora não tenho legitimidade.
O significado deste tipo de actos, da morte, da violência e do horror não podem ser diferentes consoante a localização geográfica das vítimas. E dizer isto não significa menos respeito por nenhuma delas.
Por todo o mundo, governos, parlamentos e partidos enviaram mensagens de pesar e condolências aos habitantes de Londres, ao povo britânico.
Jornalistas, fazedores de opinião, bloguistas desdobram-se em comentários, análises e considerações. Leio que «90 minutos após a primeira deflagração, já tinham sido colocados na Internet 1300 posts sobre os atentados, de acordo com o site Technorati»
Durante os últimos meses, no Iraque, têm morrido, quase todos os dias, pessoas, vítimas do mesmo terrorismo, da mesma Al Quaeda, vítimas também de outras organizações e de outros – não menos execráveis – terrorismos. Algum governo, parlamento ou partido envia mensagens de pesar e condolência as famílias dessas pessoas? Teria de faze-lo quase todos os dias, bem sei. Pois é, estamos habituados a vê-los morrer. Jantamos vendo essas imagens na televisão. O horror do “lado” “deles” não nos choca. Já quase nem é notícia.
Tivemos imensas oportunidades de fazer comentários, análises e considerações. Tivemos várias oportunidades de nos mostrarmos chocados. Eu, que no passado não o fiz, sei e sinto que agora não tenho legitimidade.
O significado deste tipo de actos, da morte, da violência e do horror não podem ser diferentes consoante a localização geográfica das vítimas. E dizer isto não significa menos respeito por nenhuma delas.
7 Comments:
É isso mesmo. Só não concordo que os civis iraquianos sejam vitimas da mesma Al-Quaeda (ou será melhor chamá-la de Al-CIAda). Os civis iraquianos morrem dos bombardeamentos indiscriminados, como em Faluja, que incluem bombas de fragmentação, napalm e segundo alguns, armas quimicas, dos snipers americanos que disparam contra tudo, crianças, mulheres e velhos incluidos, da falta de cuidados médicos, falta de agua, pobreza (alguns apontam 70% para a taxa de desemprego para), dos postos de controle, onde qualquer um que não pare a tempo é abatido, porque estavam no momento errado no sitio errado, porque se aproximaram duma patrulha americana, por causa do banditismo, por causa do terrorismo, que, em parte é praticado pelos próprios americanos, há relatos de bombas colocadas em automoveis dos iraquianos pelas tropas americanas sem estes o saberem, para depois explodirem e fomentarem o caos e as divergências entre os iraquianos, por causa da tortura, às mãos da policia iraquiana que voltou a usar os velhos métodos dos tempos de Saddam, do urânio empobrecido e de muitas coisas mais que são resultado duma guerra criminosa para roubar o petróleo, cujos responsáveis andam a solta e até se apresentam como campeões na luta pela liberdade.
Touché!!
Devíamos ser mais incisivos com a realidade que nos cerca.
Sacha concordo contigo: "Tivemos imensas oportunidades de fazer comentários, análises e considerações. Tivemos várias oportunidades de nos mostrarmos chocados. Eu, que no passado não o fiz, sei e sinto que agora não tenho legitimidade." Então pq o fazes agora? Não percebo a sub-reptícia comparação. Percebo a intenção das tuas palavras, mas os fins não justificam os meios, meu camba. :)!!Porque razão, ou emoção, misturar tudo? Pelo denominador comum do terrorismo? Por uma questão de esquecimento? Tal como aconteceu com eles, com "eles" acontece todos os dias bem pior?
...quanto à distância, à familiaridade, ela existe…, afirmar o contrário parece-me uma ingenuidade. Se há uma topologia da morte? Há!!! Se é infelizmente ou felizmente? Será infelizmente..., se não conseguirmos olhar para além, transcender, do nosso jardim!
Horácio
Horácio,
1º Não há nenhuma comparação sub-reptícia. Ela é nítida e intencional. Todo o texto acenta nela.
2º quando digo que neste momento faço comentários é ao acto em si, aos que o fizeram as suas motivições e sobre as motivações daqueles que sub a capa destes actos vão poder continuar a vestir a capa de justiceiros do mundo. ( ao dizer isto já estou a fazer um comentário, que não é sub-reptício, é inevitável).
3º O meu texto não é por isso um comentário aos acontecimentos. É um comentário sobre "Nós" todos, como sociedade. A nossa hipocrisia, visível na comunicação social, nos média, nos órgãos de soberania que nos representam e em nós próprios em actos falhados ( os blogs uma boa tela para a nossa psique)
4º Finalmente gostaria de saber quais são os fins que consegues prescutar nos meus - pelos vistos, para ti - injustificáveis meios.
( e escusas de me dar sorrisinhos, se me chamas de maquiavélico). E, já agora, na resposta, podes acrescentar qual é o "tudo" que eu estou a "misturar".
"a alternativa, para mim, tem de ser falar de Londres E das outras Londres, sabendo que é inevitável que a bomba que rebenta perto causa mais estremecimento"
E-clair,
[Presumindo que estejas a designar por "outras Londres" cidades onde tenham ocorrido eventos semelhantes]
O problema é justamente esse, não se fala (não se falou) das outras "londres". E quando se fala quem é que ouve? e quando se ouve quem é que sente?
O questão não está, é claro, na localização geográfica. Se tivesse acontecido em Sydney ou em Adelaide, o "choque" e a azafama de declarações e comentários não teria sido muito diferente.
A proximidade que nos faz "sentir" mais ou menos é pois cultural.
Mas devemos aceitar isso como inevitável? Aí é que discordo de ti.
Porque, se assim for, qual é o limite? onde é que o nosso dever de "sentir" o outro, como semelhante a nós, acaba?
Se a distância - que é cultural- torna inevitável que haja maior ou menos "estremecimento", então estamos a aceitar que exista uma distância suficiente a partir da qual não haja estremecimento nenhum.
É mesmo uma questão de próximidade, geográfica também, mas principalmente cultural. E só depois vem a escala.
O tsunami talvez chamasse a atenção devido às suas dimensões, mas não tivessem morrido tantos ocidentais e talvez não fosse mais mediatizado que as cheias do Bangladesh. O que distinguiu Martunis de outros milhares de crianças? Simplesmente um trapo que demonstrou uma afinidade cultural, factual ou não.
Pessoalmente decidi não fazer referência aos atentados. Não há nada que possa acrescentar, e na realidade pouco mais me chocam, se me chocam de todo, que milhares de outras coisas a que assisto ou do qual tomo conhecimento todos os dias.
"Pessoalmente decidi não fazer referência aos atentados. Não há nada que possa acrescentar, e na realidade pouco mais me chocam"
Narcisista , percebo-te perfeitamente e no dia em que aconteceu senti exactamete o mesmo.
Por isso mesmo é que depois de pensar que também não iria fazer qualquer comentário, senti uma necessidade de comentar não os actos ou os actores mas sim o "nosso" comportamento perante eles.
Foi isso que tentei fazer neste texto. Não sei se consegui que me percebessem.
Post a Comment
<< Home