23.8.04

A Professora Bonifácio e o José Manuel “dos paradigmas”

A 15 de Agosto “O Público” “presenteou-nos” com um artigo da Profa. Fátima Bonifácio que mais parecia uma sessão de psicoterapia. A Professora confessava as suas frustrações, mas talvez para se sentir melhor consigo mesma, generalizava-as a todos os professores universitários. A Profa. está frustrada e cansada, mas será que é só da tarefa hercúlea de ensinar a uma “massa de alunos acéfalos” como ela diz? Parece-me que não. O sinal mais nítido de cansaço de um professor é quando ele deixa de ter interrogações, porque isso significa que deixou de pensar e então já não ensina, debita. No artigo em causa não há uma interrogação, uma dúvida, apenas uma certeza: “a culpa é dos alunos, são uns preguiçosos e não querem aprender, apenas passar”. Esta “verdade” deve ser tremendamente reconfortante para a Profa. Bonifácio só que aquilo que a Profa. acusa os alunos – de que “que raramente levantam uma dúvida pertinente” -é exactamente o que ela faz.

A Profa. Bonifácio manifesta um nítido desprezo pela maioria dos mais interessantes conceitos pedagógicos. Por isso, sou capaz de apostar que, na sua carreira docente de 25 anos, nunca tirou um curso, nunca fez um estágio nunca foi a um congresso de pedagogia. Aliás, cheguei a ouvir um professor universitário dizer que pedagogia é para os professores do ensino primário e secundário. Mas para Profa. Fátima Bonifácio, nem para esses serve. A pedagogia devia ser atirada ao lixo. Pelo menos em Portugal onde, diz ela, “convenci-me ultimamente de que o panorama não melhoraria significativamente nem que os programas e os professores fossem todos excelentes”

Mais triste é que José Manuel Fernandes (JMF), que, sendo mais jovem, não tem a desculpa que ensina há 25 anos, venha apoiar Fátima Bonifácio. É outro que está cheio de certezas e não é capaz de colocar uma interrogação. O seu artigo “Mudar Paradigmas” pode-se resumir a “ a Professora Bonifácio diz, eu concordo”. Depois bastou juntar a palavra “paradigmas” no título e vir escrever que “Sem mudar os nossos paradigmas culturais dominantes, de nada servirá dar mais dinheiro à Educação: será dinheiro desperdiçado” o que corresponde mais ou menos ao “Injectou-se mais dinheiro no "sistema", promoveu-se a modernização pedagógica, reformularam-se os programas e refizeram-se os manuais. Reformas e dinheiro de nada serviram” da Profa. Apenas me interrogo sobre quais terão sido as matérias que JMF leu, além do artigo de Fátima Bonifácio, para sentir-se com conhecimento para concordar ou discordar da Professora?

No dia seguinte (18 de Agosto), como que embriagado pela descoberta da tão pomposa palavra “paradigmas”, eis que JMF volta à carga, com outro artigo intitulado “esquerda e realismo” onde, sobre o socialismo tem esta pérola: “Há pois que mudar de paradigmas e desafiar ideias feitas, algumas das quais se escondem por detrás de um palavreado bonito mas que é, no fundo, contraditório”. Se o palavreado de uns é contraditório, o de JMF é vazio. Desafiar ideias feitas é coisa que JMF há larguíssimo tempo não faz, se é que alguma vez fez

No seu artigo “esquerda e realismo ” JMF, depois de nos enfaticamente comunicar que leu um livro com 1000 paginas divididas por dois volumes - A Esquerda Europeia Ocidental no Século XX", de Donald Sassoon – acha que tem já conhecimento e legitimidade para enunciar, dar conselhos e emitir opiniões sobre os "paradigmas" socialismo. Mas, como diria A professora Fátima Bonifácio, JMF “limita-se a tirar apontamentos nas aulas". A aula neste caso é o livro. O pior é que o livro que JMF escolheu para ler, foi escolhido partindo do seu próprio preconceito, para ter matéria de que falar. JMF leu a contracapa e percebeu que tinha ali matéria para confirmar-se a si mesmo e as suas ideias. Podia assim sentir-se mais seguro e aproveitou a ocasião. Nada de muito difícil, que o obrigasse a pôr em causa as suas convicções.

Será que após ler Donald Sassoom, JMF foi ler Noam Chomsky ou Pierre-André Taguieff, François Chesnais? Não. Claro que não, esses são do “outro campo”, e comenta-los sem à partida se concordar com eles é muito mais difícil e exige vontade de estudar, fazer os “trabalhos de casa”. Talvez JMF ache que é melhor deixar isso para Pacheco Pereira que é “o melhor aluno da turma”.

Sobre fuga aos trabalhos de casa já sabemos a opinião da Professora Bonifácio por isso dou comigo a imaginar que nota daria a Profa. Fátima Bonifácio ao “cábula” JMF, se este fosse seu aluno.

O mais hilariante é que JMF avisa, em jeito de ameaça, que voltará ao tema. Preparemo-nos pois.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home