Gary Burton – “Generations”: Geração Generosa
Um indefinido harpejo de piano e, atrás, os pratos iniciando uma condução leve, como um pára-brisas limpando os nossos olhos numa manhã de nevoeiro, dando brilho. Nove segundos depois, eis que entra agora uma guitarra tranquila, “escrevendo” por cima da abstracção inicial, Três acordes aparentemente simples, quase infantis. Quando, ao 25º segundo a melodia é apresentada, impossível não sorrir, mais ainda se tivemos a sorte de, apenas por acaso, ter escolhido esta música para começar o dia, bem cedo, ainda o sol, dorminhoco parecia bocejar. Assim é a primeira musica do último disco de Gary Burton – Generations. Chama-se “First Impressions” e que boa primeira impressão causa, sem duvida.
Gary Burton – o vibrafonista mais talentoso da sua geração – faz-se acompanhar neste disco por um grupo de jovens talentosos:
Makoto Ozone, pianista companheiro de Burton já de muitos discos, além de providenciar um suporte harmónico consistente, consegue com subtileza encontrar no meio do vibrafone e da guitarra o seu espaço e mostrar-se cada vez mais uma certeza. Com ele, traz a sua secção rítmica que é uma das mais interessantes dos últimos tempos:
O baixista James Genus e o baterista Clarence Penn, ambos integrantes do Trio de Makoto Ozone e do Quinteto de Dave Douglas Douglas (grupo do qual também pretendo falar brevemente). Na minha opinião, esta dupla poderá brevemente ascender ao estatuto mítico e vir a pertencer ao restrito role das grandes secções rítmicas desta música que chamamos Jazz (Paul Chambers/Jimmy Cobb, Ron Carter/Tony Williams, Dave Holland/Jack DeJohnette, Billy Higgins/Gary Peacock)
Quem, para mim, eleva este disco a mais do que meramente bom, a cereja em cima do bolo é o jovem guitarrista e compositor, Julian Lage. Quando se ouve Lage pensa-se imediatamente em Pat Metheny. Há razões para isso pois ambos mencionam ter como maior influencia Jim Hall. Outra coincidência é que também Pat era ainda adolescente quando se estreou no grupo do Gary Burton. Atrevo-me contudo a pensar para comigo, se Lage não terá já uma dimensão, uma sensibilidade, uma capacidade de contenção que Pat só alcançou após muitos anos. Se assim for, tem toda a lógica pois Metheny não pôde ouvir-se a si próprio com mais 20 anos. Lage tem assim a vantagem de ter podido ouvir Metheny e depois, bastou ter capacidade para conseguir, dessa audição, distinguir o essencial do meramente acessório (o que não é pouco, diga-se).
De Gary Burton, não há muito a dizer: grande líder, grande improvisador, grande professor, grande pedagogo.
Quanto as composições, Lage assina três temas: a tal belíssima “primeira impressão”, o segundo tema, um tango jazzistico elegante e eloquente e por fim uma balada lírica ao melhor estilo de... Pat Matheny. Há também dois temas originais de Makoto Ozone: um sofisticado blues e uma baldada que flutua graciosamente por entre rítmicas “Piazzolianas”. Os “velhos amigos” Carla Bley, com um bebop inflamado e Steve Swallow com uma composição bem latina, com montuno de piano e tudo fecham o “set”.
O resultado final é disco muito melhor que o “Like Minds”, disco em que Gary se limitou a ir buscar um "all–star" de músicos renomados (Pat Matheny, Chick Corea, Roy Haynes e Dave Holland) e algumas das composições mais importantes destes. Prova-se mais uma vez assim, a vantagem do trabalho de conjunto, humilde e continuado sobre o encontro esporádico de génios em competição.
Em resumo uma disco excelente, com composições escolhidas a dedo e interpretadas por um grupo de músicos daqueles que nunca trocam sensibilidade por mero virtuosismo e que possuem uma generosidade e cumplicidade profundas.
PS: Seguir com atenção, o Trio de Makoto Ozone e o jovem compositor/guitarrista Julian Lage.
1 Comments:
Estou curioso para ouvir.
Obrigado pelas dicas Sacha.
Horácio
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