Coisas Lidas II: Ana Sá Lopes
(…)A pré-campanha para as legislativas nacionais, transformada em tragicomédia, provoca um ruído no vácuo que nos consome as forças enquanto espectadores "do que se passa". O fenómeno de habituação à tragédia faz o resto: o Iraque fica longe, já dura há demasiado tempo e o Iraque não é a nossa vizinha que acabou de partir a perna.
(…)
"É o que julgo saber", comentou o porta-voz da Casa Branca quando interrogado sobre a notícia do Washington Post que divulgava o fim das buscas. Pronto, acabaram. Já não há mais nada por onde remexer no Iraque a ferro e fogo. A razão da guerra esfumou-se (isso já se sabia há muito tempo), a potência que a declarou concluiu pela sua inexistência e ficou a guerra, o desfilar quotidiano de mortos, a institucionalização de limbos fora-da-lei sob a tutela dos Estados Unidos, como Guantánamo. E Abu Grahib, com os carrascos que "obedeciam a ordens". Por cá, podemos lembrar-nos da candura - o mínimo, o mínimo - com que o actual presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, à época Durão Barroso, primeiro-ministro de Portugal, afirmou peremptoriamente que as armas de destruição maciça existiam porque ele tinha visto "as provas" em Londres, num chá das cinco com Tony Blair
A Casa Branca não gostou do relatório que o National Intelligence Council entregou à CIA esta semana, mas o National Intelligence Council não pode ser atingido pelo epíteto maldito de "anti-americano primário" distribuído na altura a eito por todos os opositores à invasão do Iraque. O National Intelligence Council é um organismo que assessora a CIA e esteve a favor da invasão como lhe competia. Mas num relatório entregue esta semana a instituição conclui que a guerra está a tornar o Iraque "um campo de treino para terroristas" e que o país que foi invadido para fazer diminuir a ameaça terrorista acabou por substituir o Afeganistão como central de treino dos terroristas.
O documento conclui que há cada vez mais indivíduos disponíveis para combater "aonde acreditam que os territórios islâmicos estão a ser atacados por aqueles que designam como 'invasores infiéis'" e que estes "desfrutam de um crescente sentimento de apoio entre os muçulmanos que não apoiam necessariamente o terrorismo". A Casa Branca acha os assessores da CIA "especulativos
Ana Sá Lopes, no Publico
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