8.10.04

Elfriede Jalinek, prémio Nobel da literatura, Não Quer Ser "Uma Flor na Lapela da Áustria"

Muitos esperavam que a Academia Sueca premiasse uma mulher, mas a "ousadia" do Comité Nobel ao distinguir, ontem, a escritora e dramaturga austríaca Elfriede Jelinek surpreendeu o mundo das letras.

Nas suas primeiras declarações, a uma rádio sueca, após o anúncio do Nobel, Jelinek afirmou recear que a distinção se transforme "num enorme fardo pessoal". Sofrendo de "fobia social", nas suas próprias palavras, a escritora expressou já a sua intenção de não se deslocar a Estocolmo, no dia 10 de Dezembro, para receber o Nobel. Feminista e acutilante, disse ter consciência de "que quando uma mulher ganha um prémio, recebe-o também pelo facto de ser mulher e não se pode alegrar ilimitadamente. Se Peter Handke, que o merecia mais do que eu, o tivesse recebido, então seria como Peter Handke".

Igual a si mesma, Jelinek frisou que se recusa a metamorfosear-se numa "flor na lapela da Áustria". "Elfriede Jelinek tem razão quando afirma que não quer que o Nobel tenha um significado para a Áustria", escreve o diário de referência austríaco "Der Standard" na sua edição de hoje, referindo que a autora se distancia totalmente do actual Governo, que a elite económica e política do país há décadas que evita Jelinek. "Porque razão deveria uma mulher que muitos gostariam de ver banida receber um prémio pela Áustria?", interroga o jornal, que diz que se trata, no entanto, do "reconhecimento da literatura resistente dos últimos cinquenta anos".

Continue a ler Elfriede Jelinek Não Quer Ser "Uma Flor na Lapela da Áustria" Por HELENA FERRO GOUVEIA

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