4.2.05

O rei da Harmonia

Sempre gostei de Toninho Horta. E não me perguntes porquê. Não sei. Gosto da sua humanidade. Não sei se me entendes. Gosto do calor da sua voz. Gosto da textura e da harmonia dos seus acordes. Da sua simplicidade e beleza. Dá-me para ouvir em silêncio, para não acrescentar o pensamento. Para escutar e sorrir, apenas. Hoje...vou caminhando ao som de Durango Kid

Horácio


(1)

Porque razão um músico vindo de uma terra - Minas Gerais - longínqua e cuja cor do céu não consigo imaginar, nos diz tanto?

O "nosso" Toninho....

Porque será que os seus acordes ressoam tanta pureza aos meus e teus ouvidos? O que o torna assim tão "nosso"?

Fico feliz quando "apresento" Toninho Horta a alguém:

- Queres saber de guitarristas? Harmonizadores? Compositores?
Já ouviste falar de Toninho Horta? Então experimenta ouvir este disco...experimenta só

Fico vaidoso depois de receber o feedback:


- Altamente, mano. O muádie toca.
- yah.

Toca e toca-nos


(2)

Lembro-me muito bem. A primeira vez foi num programa de homenagem a Milton Nascimento. Produzido pela TV Globo e que a "nossa" TPA passou. Sim, nesse tempo a televisão popular de Angola dava coisas dessas.

Lembro-me bem. Foi para aí a terceira ou quarta coisa que o meu pai gravou no vídeo acabadinho de comprar. Um JVC prateado, com os botões do Play e do Rec a vermelho e o botão stop à Azul. Estávamos para aí em 1987.

Lembro-me. Havia um guitarrista sentado num banquinho. Tocando aquele violão com a aquele som tão claro, tão retocado, tão bom que até parece simples. Ao lado, Milton, noutro banquinho sentado transformava em melodia os versos:

Sabe...
Eu não faço fé
nessa minha loucura
E digo...
Eu não gosto de quem me arruína em pedaços
E deus...
É quem sabe de ti
Eu não mereço um beijo partido.


Mais do que dos versos, da melodia, nunca mais me esqueci. Nem do som daqueles acordes...

Anos mais tarde, quando depois de um par de anos de autodidáctismo resolvi ter algumas aulas de guitarra, foi encontrar um outro brasileiro. Chamava-se Tonico

Tonico quis saber o que eu esperava dele ou seja o que é que eu ouvia, que musica queria aprender, o que eu considerava ser um bom guitarrista.

-Joe Pass, Pat Metheny - respondi-lhe
- É? E Toninho Horta? Cê conhece?
- Quem?
- Toninho Horta, um cara feio pá caramba. É o rei da harmonia. Cara genial. O Pat Metheny tomou aula dele
- Não. Toca qualquer coisa dele.

Vieram aqueles mesmos versos, aquela mesma melodia, aquela harmonia. Fiquei finalmente a saber que aquele da gravação, o que se sentava ao lado de Milton, os dois num banquinho, o do violão cristalino se chamava Toninho Horta.


Hoje, sempre que falo dele, faço o mesmo aviso infantil: É o rei da harmonia.

1 Comments:

At 2:54 PM, Blogger BRUNO FANTONI said...

Adorei o seu texto falando sobre o meu irmão Toninho Horta que amanhã completa 60 anos de idade e 40 anos de carreira musical.
Envie o seu endereço para que eu possa enviar um CD para você.
Um grande abraço,
Berenice Horta

O meu email é: berenicehorta@gmail.com

 

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