Coisas Lidas: Eduardo Prado Coelho
Há concertos que ficam, há concertos que se apagam no tempo. Os primeiros deixaram-nos um sentimento de felicidade, como se o tempo se tivesse rompido e tivéssemos entrado e caminhado numa planura de encantamento. Este é o caso duma noite em que fui ouvir Simone no Coliseu, e uma imensa energia ficou dentro de mim. Sei que as noites não se repetem. Nem os concertos. Mas apetece-me ir ouvir de novo Simone, na convicção de que algo, não igual, mas semelhante, possa acontecer. Como aconteceu com Caetano Veloso. Ou Gilberto Gil, Marisa Montes ou Betânia. A música brasileira deixa-nos num estado de felicidade. Numa noite em que saía do Pavilhão Atlântico, depois de ter ouvido Bethânia e Caetano, alguém que eu não conhecia veio perguntar-me: "Então sente-se feliz?" Respondi que sim, mas o que me fazia feliz era sobretudo aquela espécie de cumplicidade que unia as pessoas. Um pouco mais de transparência - sabendo eu, mas isto é um segredo entre nós, que aquilo que se vê através da transparência é muitas vezes a opacidade que nos constitui.
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