Credibilidade ( ter ou não ter).
Numa emissão recente do programa o clube dos jornalistas, ouvi José Manuel Fernandes dizer que o a Tribunal Mundial sobre o Iraque e a sua audiência portuguesa não tinham credibilidade, porque a condenação estava feita à partida.
É evidente que o tribunal mundial sobre o Iraque não é um “tribunal” no sentido judicial do termo. Trata-se de um tribunal constituído internacionalmente em 2003 e que vem na tradição do Tribunal Russell para o Vietname. É pois uma organização que visa denunciar, expor e reflectir sobre o aconteceu: o que levou a esta guerra, o que lá se passou e o que continua a passar-se. Mais: Algumas das perguntas que este “tribunal” levanta são inspiradas nas que fez o Juiz Jackson aquando do tribunal de Nuremberga. É isto que se pode ler no site:
É sabido que a Casa Branca, o Pentágono e a CIA consideram impertinentes as perguntas que o TPI, pelo seu próprio estatuto, está obrigado a fazer. E será também impertinente o tipo de perguntas que o juiz Robert Jackson formulou há quase seis décadas, em nome dos Estados Unidos, no Tribunal de Nuremberga?
No “Processo dos Principais Criminosos de Guerra”, Jackson queria basicamente saber:
1) se os vinte réus em causa tinham conspirado contra a paz;
2) se tinham atentado contra a paz;
3) se tinham cometido crimes de guerra;
4) e se tinham cometido crimes contra a humanidade.
Foram estes os quatro tipos de delitos que serviram de base à sua acusação. O primeiro constituía mesmo uma inovação da lavra do jurista norte-americano: na audaciosa concepção de Jackson, o que configurava crimes de conspiração contra a paz eram acções como, por exemplo, a de armar um aparelho militar de conquista e rapina, a de orquestrar campanhas ideológicas para justificar a agressão, a de organizar golpes de Estado ou assassínios políticos visando preparar o terreno para as hostilidades. Tudo isto tinham feito os chefes nazis. Alguns dos réus de Nuremberga foram condenados por mera conspiração contra a paz.
Será que o comportamento dos actuais dirigentes norte-americanos e dos seus sequazes pelo mundo fora resistiria ao tipo de questionamento apresentado por Robert Jackson?
Portanto, das duas, uma: ou José Manuel Fernandes quis mesmo dizer que não têm credibilidade pessoas como os Professores Nuno Grande e Romero Gândara, Fernando Nobre (presidente da AMI), José Manuel Pureza, Saldanha Sanches, General Pezarat Correia, Frei Bento Domingues, José Barata Moura (Reitor da Universidade Lisboa), Óscar Mascarenhas (ex. presidente do sindicato dos jornalistas) ,Fausto e João Gil (Músicos), Hélder Costa e Luís Miguel Cintra (Encenadores) Henrique Botelho e Isabel do Carmo (Médicos) , José Manuel Mendes (Presidente da Associação Portuguesa de Escritores) Margarida Gil (Cineasta) Maria José Morgado( só para citar os nomes mais “mediáticos” entre muitos, muitos outros), ou então José Manuel Fernandes não sabia bem do que estava a falar.
Qualquer das hipoteses põe a nu a arrogância de JMF: Só tem credibilidade quem partilha os seus pontos de vista. No caso de JMF, quer-me parecer que deverá entender-se como "seus pontos de vista" todos e quaisquer pontos de vista que o seu "guru", Pacheco Pereira, tiver.
Como reverso da medalha, ouvi Rui Pereira dizer que, ao fazer uma análise de mais de 500 notícias que saíram n´O Público sobre a guerra do Iraque, constatou, entre outras coisas, que mais de 70% das fontes noticiosas eram americanas ou ocidentais, menos de 18% eram islâmicas e menos de 8% eram da ONU ou de organizações humanitárias.
Em matéria de credibilidade no que ao Iraque diz respeito, penso que estamos conversados.
Para "O Público" o que vai valendo é algum pluralismo opinativo que sempre vai existindo.
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