26.4.05

Do estado pré-catatónico da democracia em Timor-Leste ao Estado Católico de Timor.

Segundo as notícias que vêm de Timor, a igreja tem vindo a orquestrar protestos populares contra o governo, chegando mesmo a exigir a sua demissão. O mais incrível é que, ao que parece, a razão de tal levantamento é tão simplesmente o governo ter decidido que a disciplina de religião e moral devia ser facultativa nas escolas do estado.

Esse tipo de medida, mais do que pacífica, é natural em todas as democracias ocidentais. Esse tipo de medida é uma exigência em qualquer estado laico.

Mesmo que não seja apenas isso que esteja em causa, mesmo que a alguém faça uma avaliação negativa do desempenho do governo Timorense, não cabe a igreja, num estado democrático, fazer oposição política e muito menos impulsionar revoltas populares.

Para se perceber a gravidade da situação, o primeiro-ministro Mari Alkatiri – o intrépido ex-comandante das Fretilim que substituiu Xanana enquanto este esteve preso - já admite mesmo voltar atrás na decisão governamental. E já pediu até um encontro com os dois bispos que, arrogantemente, recusaram.

Um governo eleito democraticamente a sofrer uma ameaça de levantamento pela igreja? E qual é o seu plano no "day-after"? Criar um estado fundamentalista católico?

E evidente que seja qual for a posição do Vaticano em relação a esta confusão, ela nunca sairá cá para fora. Mas não é bom prenuncio as coisas terem chegado a este ponto.

Não é admissível que se aceite nos países desenvolvidos como um bom principio - para a saúde do Estado e até da democrácia - a separação entre a igreja e o estado, mas que depois se faça vista grossa quando alguém num país mais atrasado resolve guerrear esse mesmo principio.


Não me espantava nada que Alkatiri se demitisse. Percebo que um combatente idealista não anda anos e anos a lutar por um povo e uma ideia justa para depois ter que aturar acusações injustas e quiçá o tornar-se vilão para esse mesmo povo. No entanto espero que não o faça. Porque é a democracia de Timor que está em causa. Se necessário que lidere mais uma vez a resistência. Porque se Alkatiri lhes der esse dedo, É Timor que poderá nunca mais recuperar o braço da democracia.

PS – Para alívio meu, ao
contrário do que se disse, parece que Ximenes Belo não está envolvido nesta refrega. Pelo que não perde assim a aura que ganhou pelos anos de resistência.

1 Comments:

At 6:53 PM, Blogger ELCAlmeida said...

Caro Sacha,
De facto Ximenes não só não está como as suas palavras vão ao encontro da minha ideia. Tornar a disciplina de Religião facultativa.
Desculpe utilizar ste post para a resposta mas estou sem com putador, provavelmente at´ao fim de semana; mas a Austrália não quer problemas à porta e tem utilizado a questão islâmica sistematicamente como podendo vir de Timor. Num país dependente do petróleo e com interesses nazona... foi esta a ideia que quiz transmitir e que felizmente outros conseguiram captar.
Um abraço e sempre a considerar
Eugénio Almeida

 

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