Da minha epicrise antipapal
Parece que o post que escrevi sobre o Papa Ratzinger causou algum desconforto entre alguns dos poucos mas fiéis leitores do Abre-Surdo. Antecipando a repetição ou manutenção destas reacções e sentimentos, ocorre-me dizer o seguinte:
Sem pretender de forma alguma desculpar-me quero apenas dizer que esse post foi escrito em directo com o tempo em que se fez a novidade. Foi um azedume necessário, um grito espontâneo. Não foi, posso garantir, o resultado de uma estética noise testada e ensaiada em estúdio e esterilizada em laboratório. Estes “gritos” e "descargas" são algo de que também vive este blog e que considero absolutamente importantes para a manutenção do meu estado mental que é, devo dizer, orgulhosamente precário
Quero assegurar que estou longe de pensar que a igreja católica seja um dos principais problemas com que hoje se defronta a Humanidade. Mas, porque reconheço a sua tremenda importância, preocupa-me a sua indisponibilidade para dar o contributo necessário e possível na luta contra esses problemas.
Em meu favor, talvez deva confessar que há muito desconfio que o meu “anticatolicismo” não é totalmente autónomo e genuíno pois acredito que pelo menos 50% das culpas serão do evadido seminarista que me gerou. É ele quem co-responsabilizo genética e educacionalmente pela mais que provável perdição eterna da minha alma.
Repito: não estou com isto a desculpar-me, mas, passada que está a minha epicrise antipapal, não quero que se pense que pertenço àquela casta de consumidores compulsivos de tudo o que sejam ideias, literaturas e panfletos anticatólicos, desde o “Porque não sou cristão” até ao “Código de Da Vinci” Estou também em condições de assegurar-vos que nunca pousei os olhos num parágrafo de Dan Brown e que tampouco planeio faze-lo nos próximos longos tempos. Infelizmente a única bíblia a que os meus olhos têm e terão direito não é uma bíblia antibíblia sagrada. É apenas o Harrison´s Principles of Internal Medicine, na sua décima sexta e não menos intragável edição. Confio que os seus ensinamentos são inócuos para a “Santa” igreja.
Vou percebendo as razões de quem diz que a história acontece circularmente, mas não consigo deixar de temer que esse círculo possa afinal ser parte de uma espiral que um dia destes nos levará a regressar a idade das trevas
Finalmente, admito que teria muitas explicações a dar, se a minha querida avó fosse adepta de navegar pela blogolândia. Só por causa dela é que vou resistindo a este anticatolicismo descontrolado, doença crónica e recidivante.
1 Comments:
O desconforto, Sacha, para mim, é mais do "cheiro a Igreja" que rodeia toda esta morte e eleição de um substituto. A minha escola até parou a ver a TV que entretanto tinha sido posta em altos berros quando surgiu a notícia de que "já havia Papa!", ficando assim toda a gente com a alma mais tranquila e guardada...
Ana
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