30.4.05

Exaltado Isaltino

Isaltino Morais leu os estatutos e descobriu que quem não os cumpre é o líder do partido. Porque, ao contrário do que mandam as regras internas, as concelhias e as distritais devem escolher os candidatos às câmaras e que só depois é que a Comissão Política Nacional os ratifica.

O pré-candidato ameaçou mesmo o presidente do PSD de desrespeitar os estatutos e é por isso que vai pedir ao Conselho de Jurisdição Nacional do partido para "apreciar o comportamento ilegal, anti-estatutário e prepotente" de Mendes. Mas a ameaça vai mais longe se o conselho de jurisdição "não agir no respeito dos estatutos", então Isaltino Morais recorrerá aos tribunais.


Marques Mendes quis mostrar que era já era homenzinho e para isso escolheu dois tabuleiros: Apostou que a afronta a Santana e a Isaltino lhe dariam a aura de regenerador da imagem do PSD; Acreditou que o desafio ao PS na questão da data dos referendos lhe daria a primeira vitória política.

E as coisas no início até deram certo:

Apear Santana foi fácil. No PSD – com excepção de meia dúzia de fervorosas “santanetes” e três ou quatro reticentes “santanuts”, todos distinguidos com o cargo de vereador – ninguém o queria.

No segundo tabuleiro, Mendes criou um impasse, embora o desafio ao PS se mantenha aceso. O que só por si foi um ponto para marques Mendes, apesar da chantagem óbvia, que nenhum dos mais ilustres e tele-mediáticos comentadores políticos – sempre independentes no seu brilho de cor levemente alaranjada – desmascarou. Quem o fez, e razoavelmente bem, foi o próprio Sócrates na entrevista a Judite de Sousa.

Só que, de volta ao tabuleiro autárquico, o que Marques Mendes não esperava é que Isaltino fosse um osso tão duro de roer. Isaltino provavelmente conhece o aparelho e as secções locais melhor que Santana Lopes e está disposto a ir à guerra, coisa de que Santana, depois de tantas derrotas e de tantos ferimentos dorsais – com facas pontiagudas e afiadas, umas de brilho prateado, outras enferrujadas, mas todas elas dolorosamente cortantes – já estava visivelmente cansado.

E agora, que está o”fuzuê” armado, Marques Mendes não pode voltar atrás, por o rabo entre as pernas e dizer, com lágrimas nos olhos: “oh pá Isaltino, nós somos amigos. Amigos, pá. Vamos lá parar com isso. Ficas em Oeiras e não se fala mais nisso”. Isso seria o inverso da tal imagem de pequeno grande homem, que Mendes pretendia edificar.

A minha esperança é que isto tudo tenha um efeito beneficamente inesperado:

Que marques Mendes forçado a mostrar mais uma vez que tem autoridade para estar a altura dos acontecimentos, mexa no tabuleiro onde ainda não jogou: na limitação dos mandatos e comece logo por desproteger um dos seus bispos: Alberto João Jardim. Até porque deixar cair o indisciplinado bispo - que gosta de se mover como um cavalo- seria então sim, um feito histórico - uma “ganda noia” - para a imagem de homem político sério, que Marques Mendes espera ter construído até 2009.

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