15.9.04

Vivemos uma crise habitacional?

Possuir habitação é, sem dúvida, tranquilizador; prédios habitacionais oferecem ao homem uma residência, um abrigo. Mas será que as habitações trazem nelas a garantia de que aí acontece o habitar? E o que dizer de uma auto-estrada, de um centro comercial, de uma ponte; e da falta de jardins nas nossas cidades, da falta de planeamento urbanístico, dos cemitérios de prédios acumulados uns em cima dos outros, etc?
O homem é à medida que habita. Ele constrói o seu lar, e este construir não é apenas um edificar construções, aedificare, como vemos nos dias de hoje, mas um cultivar (do latim, colere, cultura), um proteger, um ver crescer e cuidar do crescimento.
Parafraseando Heidegger: não habitamos porque construímos, no sentido de edificar, mas ao contrário. Construímos, cultivamos, e chegamos a construir à medida que habitamos, ou seja, à medida que somos como aqueles que habitam.
A essência do construir é deixar-habitar. Somente se formos capazes de habitar é que podemos construir.
A crise propriamente dita do habitar, o excesso de construções, edificações sem qualquer plano ambiental e paisagístico, é o sintoma de que homem tem de aprender primeiro a habitar.

Assim Habito
Horácio

2 Comments:

At 3:53 PM, Blogger Sacha said...

O homem hoje, neste sec XXI, destituindo dos direitos de cidadania que talvez ainda ousa sonhar, reduzido ao mais “estilizado” estatuto de consumidor, sem habitação, apenas alojado.
Trabalhar, consumir e entreter-se. Sobre esta tríade reside a razão de existir deste “Nulomem”. E a culpa não é dele.

Não será necessário primeiro que ele “respire” para que depois se possa ambicionar que tenha energia para abrir os olhos, olhar, ver e então habitar?

Falta-nos AR(T).

 
At 3:53 PM, Blogger Sacha said...

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