28.10.04

Crónicas Lidas


Este episódio é um retrato impiedoso da pequenez e da miséria moral deste tempo dos medíocres que vivemos, gente orientada pela mera preservação do poder a qualquer custo, e que se guia pela velha máxima de que quem não é por si é contra si. E, por isso, o inimigo tanto está no jornalismo independente, no comentário político adverso ou nos empresários que não necessitam de bater à porta do Governo, como nos companheiros de partido que não alinham no coro do amiguismo, do auto-elogio e da exaltação cega. Esta é a gente que risca os potenciais adversários das listas de delegados ao congresso com base em argumentos formais, como aconteceu a Manuela Ferreira Leite. E que não está minimamente interessada em conviver com o espectro da autoridade política de Cavaco Silva, ou a irrecusável lucidez e inteligência de Pacheco Pereira.

A ânsia deste Governo em ter uma comunicação social submissa e o controlo apertado de empresas de sondagens vem, aliás, de um tempo em que ainda nem sequer existia, mas nas hostes pós-cavaquistas do PSD já se respirava a poder face à decadência diária do guterrismo. E isso era uma peça importante do jogo da rápida transição geracional que queriam impor no panorama político à direita, para varrer todas as sombras tutelares ou referências históricas que pudessem permanecer. Era a hora dos jovens lobos que chegava e, como se vê, chegou!
in "Marcelo" por Eduardo Damaso no Público

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