Depois de Trabalhar, Noite de Azar
Hoje, pelas piores razões, experimentei o comboio da fertagus.
Depois de 12 horas de trabalho no serviço de urgência, as nove da noite, saí do hospital, apenas para notar que não tinha comigo a chave do carro e, pior aínda, que o próprio carro tinha desaparecido. A equipa, chefes, colegas e pessoal do hospital, ainda levantaram a hipótese de ele apenas ter sido rebocado. Mas não....Eu não tinha a chave comigo e isso era significativo.
Sinceramente, do meus gestos, hoje de manhã quando o estacionei, apenas me lembro de dar duas( !) moedas de 50 cêntimos ao "arrumador". Lembro claramente deste pormenor: não era uma moeda de um euro, mas duas de 50 cêntimos. Será que com a preocupação de "agraciar" o jovem "simpático" que gesticulava insistemente, me esqueci da chave dentro do carro? Pior aínda, na fechadura? Não me lembro. Apenas me lembro das duas moedas.
Levado por um colega lá fui apresentar queixa à polícia. Primeiro, pareceram hesitantes: era eu o dono do carro? de certeza? podia provar? tinha os documentos? tinha bilhete de identidade? Achei melhor contar-lhes a história. A partir daí foram compreensivos. Os carros patrulha foram notificados no melhor estilo " Tango, daqui fala Charlie", com a matricula a ser divulgada com efusivos "tereeees", "dois", "traço", "tereeés","quatrrro", "traço" ,"Otelo","zorro". Otelo? Mas matrícula termina em HZ, pensei...se calhar ouvi mal, se calhar terá dito "Hotel". A seguir o chefe aproveitou logo para ensinar ao subalterno como se preenche a "papelada". Pareciam maravilhados com o computador. A determinada altura perguntaram-me o preço do carro. Não fazia a mínima ideia. O carro é de 1997, há tabelas que indicam o preço com base no ano de fabrico, cilindrada, etc. Não deveria a polícia ter uma tabela dessas? Diga um valor qualquer, sugeriu o chefe. É só pra o juíz poder atribuir a pena, explicou. Confesso-vos que não fiquei arrepiado e, após assinar oito papeis: quatro a descreverem a queixa, mais quatro a confirmar que eu tinha feito a queixa conforme constava nos outros quatro papeis, fui-me embora a pensar no que ainda tinha pela frente: É que eram dez da noite e eu tinha deixado no carro as chaves de casa.
O colega deixou-me na estação de comboios. Depois de 20 minutos de comboio, cheguei a estação mais próxima de minha casa, mas, incrivelmente, nenhum dos muitos autocarros que param na estação, passavam lá perto. Todos seguiam direcções que dela se afastavam. Taxis? Nem vê-los. Resolvi ir a pé, mas estava por minha conta e risco pois o caminho, o único caminho, era uma estrada, uma espécie de viaduto, cheia de nós e ligações e sem passeios.
15 minutos a pé, 23h15, chego a casa, quer dizer, ao prédio. Toco para o vizinho. Explico-lhe a situação: sou o seu vizinho...o meu carro foi roubado... nele estavam as chaves de casa. E daí?, pergunta-me ele. Sem saber se deveria sentir-me humilhado ou fazer um cálculo aproximado do QI do meu vizinho, esclareci: Preciso que me abra a porta cá de baixo.
Subo, toco-lhe a campainha, explico-lhe tudo de novo, com muita, muita calma. Peço-lhe, quase suplicando: posso pular da sua cozinha para a minha? É que acho que deixei a janela aberta. Não me conseguiu dizer não.
Pendurado no para-peito do prédio, no 3º andar, agarrado as cordas da roupa, tentando abrir a janela, ainda ouço o meu vizinho dizer: veja lá se cai.
Abri a janela e pulei. Estava em casa. Seguro. Não mais! NO MÁS. Não havia mais nenhum azar que me pudesse acontecer. Erro. Enquanto escrevia este meu drama, a pulseira do relógio cedeu e rasgou-se. O melhor é hoje não cozinhar, não ligar a televisão, desligar o computador e ir dormir.
Fui sortudo, podia ter sido pior, diria, convictamente, um pessimista: O carro podia ter sido roubado comigo lá dentro, a polícia podia ter-me confundido com um criminoso, podia ter tido que esperar 2 horas pelo comboio, podia ter sido atropelado no caminho a pé para casa, o vizinho podia não estar ou decidir não acreditar em mim, a janela por onde entrei podia estar fechada,e pior aínda, podia ter caído do 3º andar do prédio . Sim, podia ter sido pior. Para mim, apenas foi o meu dia... quer dizer, a minha noite de azar.
Depois de 12 horas de trabalho no serviço de urgência, as nove da noite, saí do hospital, apenas para notar que não tinha comigo a chave do carro e, pior aínda, que o próprio carro tinha desaparecido. A equipa, chefes, colegas e pessoal do hospital, ainda levantaram a hipótese de ele apenas ter sido rebocado. Mas não....Eu não tinha a chave comigo e isso era significativo.
Sinceramente, do meus gestos, hoje de manhã quando o estacionei, apenas me lembro de dar duas( !) moedas de 50 cêntimos ao "arrumador". Lembro claramente deste pormenor: não era uma moeda de um euro, mas duas de 50 cêntimos. Será que com a preocupação de "agraciar" o jovem "simpático" que gesticulava insistemente, me esqueci da chave dentro do carro? Pior aínda, na fechadura? Não me lembro. Apenas me lembro das duas moedas.
Levado por um colega lá fui apresentar queixa à polícia. Primeiro, pareceram hesitantes: era eu o dono do carro? de certeza? podia provar? tinha os documentos? tinha bilhete de identidade? Achei melhor contar-lhes a história. A partir daí foram compreensivos. Os carros patrulha foram notificados no melhor estilo " Tango, daqui fala Charlie", com a matricula a ser divulgada com efusivos "tereeees", "dois", "traço", "tereeés","quatrrro", "traço" ,"Otelo","zorro". Otelo? Mas matrícula termina em HZ, pensei...se calhar ouvi mal, se calhar terá dito "Hotel". A seguir o chefe aproveitou logo para ensinar ao subalterno como se preenche a "papelada". Pareciam maravilhados com o computador. A determinada altura perguntaram-me o preço do carro. Não fazia a mínima ideia. O carro é de 1997, há tabelas que indicam o preço com base no ano de fabrico, cilindrada, etc. Não deveria a polícia ter uma tabela dessas? Diga um valor qualquer, sugeriu o chefe. É só pra o juíz poder atribuir a pena, explicou. Confesso-vos que não fiquei arrepiado e, após assinar oito papeis: quatro a descreverem a queixa, mais quatro a confirmar que eu tinha feito a queixa conforme constava nos outros quatro papeis, fui-me embora a pensar no que ainda tinha pela frente: É que eram dez da noite e eu tinha deixado no carro as chaves de casa.
O colega deixou-me na estação de comboios. Depois de 20 minutos de comboio, cheguei a estação mais próxima de minha casa, mas, incrivelmente, nenhum dos muitos autocarros que param na estação, passavam lá perto. Todos seguiam direcções que dela se afastavam. Taxis? Nem vê-los. Resolvi ir a pé, mas estava por minha conta e risco pois o caminho, o único caminho, era uma estrada, uma espécie de viaduto, cheia de nós e ligações e sem passeios.
15 minutos a pé, 23h15, chego a casa, quer dizer, ao prédio. Toco para o vizinho. Explico-lhe a situação: sou o seu vizinho...o meu carro foi roubado... nele estavam as chaves de casa. E daí?, pergunta-me ele. Sem saber se deveria sentir-me humilhado ou fazer um cálculo aproximado do QI do meu vizinho, esclareci: Preciso que me abra a porta cá de baixo.
Subo, toco-lhe a campainha, explico-lhe tudo de novo, com muita, muita calma. Peço-lhe, quase suplicando: posso pular da sua cozinha para a minha? É que acho que deixei a janela aberta. Não me conseguiu dizer não.
Pendurado no para-peito do prédio, no 3º andar, agarrado as cordas da roupa, tentando abrir a janela, ainda ouço o meu vizinho dizer: veja lá se cai.
Abri a janela e pulei. Estava em casa. Seguro. Não mais! NO MÁS. Não havia mais nenhum azar que me pudesse acontecer. Erro. Enquanto escrevia este meu drama, a pulseira do relógio cedeu e rasgou-se. O melhor é hoje não cozinhar, não ligar a televisão, desligar o computador e ir dormir.
Fui sortudo, podia ter sido pior, diria, convictamente, um pessimista: O carro podia ter sido roubado comigo lá dentro, a polícia podia ter-me confundido com um criminoso, podia ter tido que esperar 2 horas pelo comboio, podia ter sido atropelado no caminho a pé para casa, o vizinho podia não estar ou decidir não acreditar em mim, a janela por onde entrei podia estar fechada,e pior aínda, podia ter caído do 3º andar do prédio . Sim, podia ter sido pior. Para mim, apenas foi o meu dia... quer dizer, a minha noite de azar.
1 Comments:
Tranquilo brother f. Obrigado pelas palavras.
Aqueles que ficaram precupados comigo, obrigado. Mas tá tudo bem. Tanto assim é que resolvi contar a história.
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