21.1.05

Louçã, os debates e o discurso

sobre o primeiro dos debates da sic notícias, José Mario Silva no Blogue de Esquerda, num post entitulado "Louça vs Jerónimo" escreveu:

«Ontem à noite, na SIC Notícias, o primeiro debate frente-a-frente da pré-campanha, entre Francisco Louçã e Jerónimo de Sousa, terminou com uma vitória clara do dirigente do Bloco de Esquerda. Nada de surpreendente. Apesar de um quase consenso na análise crítica dos principais problemas económicos e sociais do país, há um abismo a separar os dois homens no modo como falam e nos destinatários escolhidos para a sua mensagem. Louçã tem um discurso articuladíssimo, moderno, apelativo, mediático (adaptado à lei dos «soundbytes»), virado para o futuro e para o eleitorado que pretende ganhar. Jerónimo joga à defesa, recorre aos chavões, ao vocabulário vetusto, à retórica bem oleada (mas previsível) da CDU e parece preocupado apenas em suster o antigo eleitorado, em permanente erosão.
Num debate sem acrimónia e pouco agressivo, onde os dois líderes estiveram mais vezes de acordo do que seria de esperar, Louçã venceu sobretudo no campo da economia da linguagem (coincidente, neste caso, com a «linguagem da economia»). E todos sabemos que é no campo da linguagem que se ganham hoje, para o mal e para o bem, os votos decisivos


É exactamente deste "vencer na economia da linguagem" que eu desconfio.

Porque gosto muito mais de ouvir Louçã falar de Economia (finanças, contas publicas, fiscalidade) do que quando escolhe a tal linguagem economizada ( o soundbyte radical).


É que, se calhar entusiasmado por estes louvores, Louçã apostou nesse tal estilo de "economia da linguagem", mediático e "soundbytizado"e o resultado, temos de admitir, foi infeliz: Portas hoje, no segundo debate da sic notícias, esteve melhor que Louçã. Já é sabido que que Portas é imbativel na tal linguagem do "Soundbyte". Ele, ao contrário de Santana, consegue fazer o "Soundbyte" parecer "coisa séria", por isso a estratégia deveria ser justamente desmontar o seu discurso e não competir com ele.

Porque Louçã ao invés de forçar o debate no campo em que foi nítido que Portas estava manifestamente mal preparado, insistiu numa linguagem radical, que forçosamente diminui a sua capacidade de comunicar as suas ideias a não esquerda.

Só no dominio da económia e finanças Louçã conseguiu enervar Portas.Devia ter percebido isso. Até porque é urgente que se perceba que existem alternativas economicas credíveis à "lei económica" que o discurso neoliberal nos quer impor como inevitável. Alternativas propostas por gente credível- economistas e professores de ciência economica- de várias partes do mundo.

Louçã devia apostar mais no seu estilo mais agradável que é o pedagógico e tolerante (o bom professor- que, segundo me dizem Louçã, é- tem uma boa dose de tolerância) e menos no discurso radical, que é bom para captar a atenção de adolescentes ( na idade e/ou na mente) mas que infelizmente faz com que muita gente o confunda coom um extremista demagógico (coisa que na realidade não é).

Quanto mais o Bloco de Esquerda radicalizar o discurso, menos o PS se sentirá obrigado a ouvi-lo futuramente. Até porque menos nítidas serão as pontes que existem entre o Bloco e a ala esquerda do PS.

Espero que Louçã consiga estar melhor no próximo debate (segunda- feira, contra Santana).

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