Chacal.
Como você viu e viveu as transformações (se é que houve alguma) das décadas de 70, 80 e a atual.
É divertido falar disso, estando dentro da parada. Mudam os anos, os modos, o país, mudo eu. 70 foi um período sinistro, vertiginoso, cercado de treva e droga. Mas no meio algo brilhava: a luz negra dos poetas possessos. E a voz penetrou o silêncio imposto e fertilizou a poesia. 70 foram anos “punk”, de uma poesia urgente, mal acabada, irresistível, vital. A poesia olhava a vida nos olhos e dizia como era ela e vice-versa.
É divertido falar disso, estando dentro da parada. Mudam os anos, os modos, o país, mudo eu. 70 foi um período sinistro, vertiginoso, cercado de treva e droga. Mas no meio algo brilhava: a luz negra dos poetas possessos. E a voz penetrou o silêncio imposto e fertilizou a poesia. 70 foram anos “punk”, de uma poesia urgente, mal acabada, irresistível, vital. A poesia olhava a vida nos olhos e dizia como era ela e vice-versa.
A torre de marfim, atingida pelo raio da vida, ruiu boquiaberta. E desses escombros, brotou o rock dos 80. Os poetas migraram para a música porque o som distorcido e amplificado das caixas de som eram as caixas de guerra que eles precisavam. A tecnologia veio junto com a indústria cultural. A poesia se performatizou, se profissionalizou, aprendeu os truques marqueteiros e aprofundou suas olheiras com maquiagem barata.
Nos 80, os poetas invadem os palcos, armados de guitarras até os dentes. Nas garagens da poesia, o verso era recauchutado. Cientistas do verbo, exasperados com tanto barulho e diluições, recuperavam o vigor do verso, a coluna vertebral do poema era estimulada como antídoto aos maus modos marginais. E chega 90 com seu jeito collorido. A biodiversidade campeia. A indústria drenou a alma do rock e partiu para o interior. As editoras deixaram o barco bêbado da poesia à deriva e os poetas acordaram. Dos laboratórios das faculdades de letras, veio à luz um verso novo, eivado de referências poéticas.
A poesia, cansada de lidar com a vida, de brigar para mudar o mundo, se volta para dentro de si mesma. Os cadernos de cultura exultam. As referências agora são mais fáceis de achar. Saem das ruas e vão para as bibliotecas e livrarias. Mas a contraparte dessa tendência estoura nas rádios e se chama rap, hip-hop, funk. A poesia falada, cantada no ritmo eletrônico, celebrando a miséria urbana. Final de milênio. Vale tudo que venha somar. Radicalmente.
Três antigas entrevistas de Chacal, agora disponíveis aqui, na Cronópios
Três antigas entrevistas de Chacal, agora disponíveis aqui, na Cronópios
0 Comments:
Post a Comment
<< Home