7.11.05

Pac uva, muita parra, man ( Ou Pacman no mundo dos mandatários para a juventude)

Manuel Alegre, um candidato com quem simpatizo, escolheu para mandatário para a juventude o jovem errado. Porquê?

I
Porque é difícil perceber como é que, sendo Alegre um candidato que (1) fala de "valores de esquerda" e da "esquerda dos valores", (2) que tem reflectido de forma crítica e preocupada sobre com os caminhos da globalização (3) que apela a um “redescobrir” dos “valores” e de uma certa “alma” lusitana, escolhe para seu mandatário para a juventude alguém que faz publicidade do “BigMac”donalds. Com toda a simpatia que se possa ter por Pacman, a partir do momento em que é uma “voz da McDonalds”, devia deixa de poder ser uma “voz de Manuel Alegre”. Ou então há qualquer coisa que não bate certo e esta questão, que pode parecer menor, não é. Pelo menos para mim.

II
O debate dos mandatários da juventude, na sexta – feira no "Expresso da meia-noite", na SIC, veio confirmar o desacerto da escolha (erro de casting, como agora sói dizer-se): além desconforto nítido e de uma certa timidez (que até poderia ser benéfica), Pacman não foi capaz de dar uma resposta estruturada, convincente ou pelo menos convicta sobre o que quer que fosse. Revelou-se incapaz até em perguntas que deveriam ser simples, por ex. o que distingue Alegre dos outros candidatos de esquerda. Não conseguiu sair da retórica da “empatia com Alegre por causa da poesia” e visivelmente embaraçado chegou a dar justificações patéticas como “não posso comentar porque estive fora do país e só cheguei ontem”. Percebeu-se que Pacman não só não acompanha o debate político nacional como não é alguém que esteja habituado a fazer algum tipo de reflexão política (pelo menos uma que seja estruturada). Está no seu direito, mas então não deveria aceitar o convite de Alegre. Convite que por sua vez Alegre não devia ter feito.

A noite na sic correu tão mal a pacman que a determinada altura conseguiu-se mesmo descortinar um esforço por parte dos outros mandatários para evitar ir por questões que pudessem merecer uma réplica por parte do representante de Alegre. É que não tem piada nenhuma bater no “ceguinho”. Sobretudo se o “ceguinho” até é um jovem porreiro, mandatário de um candidato de esquerda. Fosse o “ceguinho”, de direita e teria – não tenho nenhuma dúvida - saído trucidado do debate.

Da parte dos outros mandatários Joana Amaral Dias esteve igual a ela mesma: acutilante, esclarecida e esclarecedora. Sem novidade. Novidade que também não podia haver por parte do jovem escolhido por Jerónimo: os jovens do PCP costumam estar preparados para o debate político. A surpresa, para mim, foi mesmo mandatário de Loucã, que sendo alguém com um perfil aparentemente semelhante ao de Pacman – Músico e sem presença contínua e comprometida na vida política – conseguiu ter uma argumentação bastante sólida e levantar perguntas muito pertinentes. Por último uma pergunta para a ausente Cátia Guerreiro, mandataria da juventude de Cavaco, que se recusou a comparecer no debate. Será que não quis fazer de “pacwomen” (antes ausente que a fazer figuras tristes) ou que antes preferiu mostrar rapidez na assimilação das lições de silêncio e altivez do mestre?

Deste debate a candidatura de Alegre saiu a perder duplamente: (1º) Porque o seu mandatário perdeu para todos os outros, mesmo para a mandatária ausente. (2º) Porque passa a ideia – injusta, espero – que Alegre acha que a juventude portuguesa, não sendo totalmente frívola, é muito "superficialzinha" pelo por isso basta um mandatário que é uma imagem com pouco conteúdo.

Por muita simpatia que tenha pela candidatura de Alegre devo dizer que Soares fez uma escolha melhor: transmite a imagem de maior seriedade e rigor, bem como maior consideração pelos jovens. Louçã, por sua vez, parece ter conseguido o melhor dos dois mundos: mediatismo e contéudo. Fica a interrogação sobre a ordem de prioridades: conteúdo com mediatismo ou mediatismo com conteúdo.

1 Comments:

At 6:41 PM, Blogger Salucombo_Jr. said...

Isso fez-me lembrar o "erro de casting" que o Pinto da Costa cometeu com o José Couceiro...
Ele estava tão deconfortavel no programa que chegei a perguntar-me se alguma vez tinha gravada um video clip...

 

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