São nacles senhor, são nacles.
Esta semana tem sido pródiga em notícias sobre os problemas e conflitos nos hospitais.
No hospital Fernando da Fonseca (amadora /Sintra) houve greve. Antes, na segunda feira, no Hospital São Bernardo, Setúbal, vários médicos incluindo directores de serviço, concentraram-se à entrada do hospital e na presença da comunicação social, traçaram um “quadro geral” pouco optimista relativamente a situação do hospital: o desinvestimento, o abandono, o ambiente de conflito (quase aberto) entre directores de serviço e administração.
Tudo isto lembrou-me uma ocorrência, que, penso, será ilustrativa das “dificuldades” destes "novos" administradores destes "velhos" hospitais, agora travestidos nestas "novas" SA´s.
A história, que é recente, é a seguinte:
Certo dia, uma senhora assistente ou secretária (não me recordo) de uma outra senhora, administradora, contactou os responsáveis da enfermaria do serviço hospitalar X, do hospital Y, porque este requisitava muitos "nacles".
Inicialmente, as pessoas que cuidavam destes assuntos no respectivo serviço, não perceberam o que era isso dos “nacles”. Mas a senhora insistia e queria saber porquê razão eram sempre nacles de 9% que eram gastos, já que havia no aprovisionamento vários nacles de 4,5% que eram muito menos usados e, dizia, a srªa Administradora fulana de tal interrogava-se se a enfermaria do serviço não poderia passar a usar dois nacles de 4,5% ao invés de um de 9%. Assim podia-se reduzir a compra de nacles de 9 %.
Só após a referência aos 9%, é que o pessoal da enfermaria percebeu finalmente o que eram os tais nacles: eram os balões de soro fisiológico ( NaCl e a respectiva diluição era o que a dupla de senhoras lia no rótulo). Lá se explicou, em termos simples, à srª assistente da srªa administradora que as balões de soro contendo cloreto de sódio, obedeciam a diferentes “diluições”, que era isso que significavam as percentagens, que juntar dois balões de soro com NaCl a 4,5% apenas vai dar dois litros de soro com cloreto de sódio a 4,5%. Que o soro que tem 9% de NaCl é que é o isotónico e que isto significa que tem aproximadamente a mesma tonicidade (osmolaridade) do “soro humano” e por esta razão é muito mais usado. Que o outro, o de 4,5% é hipotónico e tem indicações muito mais limitadas, por isso se gastava menos.
Não sei se a srªa assistente da srªa administradora percebeu e se retransmitiu o que foi dito. Mas de certeza que a srª Administradora continua a estudar, com base nos seus "modernos" conhecimentos de gestão, novas formas de poder poupar dinheiro. Daqui há uns tempos, talvez haja novos desenvolvimentos.
Em Portugal existem cursos de especialização e pós-graduação em administração hospitalar. Só que, ao que parece, não são uma exigência para administrar um hospital. Entretanto, estes vão sendo administrados com a mesma “creatividade gestora” com que se administram os correios ou uma fábrica de sapatos. É que, dizem eles, “são tudo empresas”, assim sendo só há que seguir “modelos modernos de gestão”.
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