2.12.04

Coisas Lidas: Vicente Jorge Silva

(...)a sobrevivência do Governo Santana era insustentável depois de todas as cenas conhecidas. No entanto, será conveniente não esquecer o «pecado original» desta situação -- e do qual são co-responsáveis Durão Barroso e Jorge Sampaio. Durão porque não respeitou os seus compromissos com o país e «fugiu» para a Europa na primeira oportunidade. Sampaio porque não colocou Durão, no momento propício, perante as suas responsabilidades e acabou por estimular (pela ambiguidade e vacilação dos seus juízos) a «fuga» do actual presidente da Comissão Europeia.
(...)

o Presidente agiu, das duas vezes, a reboque das pressões exteriores e não inspirado por uma atitude firme e esclarecida que deveria ter tido desde o início -- mas não teve: quer quando aceitou com excessiva passividade a saída de Durão, quer quando se deixou impressionar, já tardiamente, com o grotesco episódio da saída de Chaves.

O primeiro episódio foi efectivamente grave, o segundo foi apenas uma derradeira cena da opereta que o Presidente foi consentindo por complacência e omissão.

É fácil encontrar um pretexto para «despachar» um Governo que perdeu credibilidade para além de tudo o que seria admissível. Difícil (e decerto mais conforme com o respeito que deve merecer a função presidencial) seria prevenir a degradação das coisas, impedindo-as de degenerar em episódios caricaturais que põem em causa a própria imagem do Estado. Decidir em função destes episódios acaba por afectar a dignidade do papel do Presidente da República.


Vicente Jorge Silva

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