Completamente de Acordo
Com Miguel Sousa Tavares quando escreve:
O que verá, então, a direita europeia neste Presidente americano que justifique tamanha satisfação? Os célebres "valores morais", não vejo que outra coisa. O tal factor que, segundo as sondagens, terá sido o principal desequilibrador dos votos a favor de Bush. Será isso então que justifica o entusiasmo com que, por exemplo, Vasco Graça Moura exulta com a vitória de Bush "contra a Europa do politicamente correcto, contra a esquerda em geral... enfim, e isto dá-me um certo gozo interior, contra o dr. Mário Soares".
Gozo? Politicamente correcto? Mas será que cabe no índex maldito do politicamente correcto coisas como ser-se contra a criminalização do aborto e a pena de morte, ou ser-se a favor da separação entre o Estado e a religião, da diferenciação entre a taxa de imposto para ricos e para pobres, do direito à educação, à saúde e à assistência social para todos, independentemente das suas possibilidades financeiras? É que são estes, caso não tenham reparado, alguns dos "valores" que a direita cristã americana impôs nesta eleição.
Alguns comentadores de direita têm insistido em ver no desfecho das eleições americanas uma batalha por valores que a esquerda perdeu - o que lhes serve de argumento para exclamar, cheios de "gozo", que os valores da "velha esquerda" estão mortos e, enquanto não forem revistos, só a conduzirão às derrotas, hoje nos Estados Unidos, amanhã na Europa. Têm razão na análise, mas a lição que pretendem extrair é simplesmente amoral. Houve, de facto, uma batalha por valores nestas eleições americanas, e os valores emergentes da nova direita derrotaram os valores da velha esquerda. Mas ainda bem que houve essa batalha, que a esquerda preferiu o risco da separação das águas do que a tentação de se adaptar aos ventos hoje dominantes. Ainda bem que houve essa clarificação, mesmo que ela tenha deixado a América profundamente dividida ao meio, em termos que preocupam até os próprios vencedores. Mil vezes perder uma eleição do que perder a razão.
Ler o artigo completo de Miguel Sousa Tavares
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