16.11.04

Santana e o "Astral" (verdadeiramente confiemos)

O primeiro-ministro disse no congresso do "seu" PPD-PSD : "Eu quero que o país vá subindo no seu astral!"

Sobre esta brilhante tirada (mais uma!) de Santana Lopes , José Vitor Malheiros escreve no Publico de Hoje:

(...)Outro primeiro-ministro poderia ter falado de brio, de projecto, de ânimo, de sonho, de ambição, de futuro, de trabalho, de empenhamento, de desafio, mas Santana sabe falar ao povo na sua própria língua e saiu o astral!

(..)Mas não se pense que saiu por acaso. O astral presta-se mais à banha da cobra do que o projecto e até do que o sonho, porque o astral não depende nem do trabalho (lagarto, lagarto), nem do desejo, nem sequer de nós. Só depende dos astros, dos deuses, dos alinhamentos siderais, dessa coisa etérea que é a coisa nenhuma. Nem é preciso querer, astral é astral, acontece à gente sem a gente querer. Além de que o astral é sentimental ("Me liga!"), tem a ver com destino, com coisas escritas nos céus com pozinho de estrelas e não exige nenhum mas nenhum esforço. Astrau é assim mesmo! Como se faz para melhorar o astral? Incríveu! Você não sabe? Relaxe! Nada melhor para o astrau! Não sabe como? Beba uma caipirinha. Duas! (...)

(...)Depois do astral já percebemos porque é que a palavra de ordem do primeiro dia do congresso era "verdade" e a do segundo dia "confiança". É que, quando se prega a verdade, o povo pode ficar com ideia de que tem direito a alguma coisa e até pode começar a fazer perguntas, mas com a confiança não há riscos. Confie! Não pergunte, não diga, não duvide! Suba o astral! Relaxe. Deixe tudo na mão do PSLPSDPP. Beba mais uma caipirinha. Me liga!

No Diário Económico, João Paulo Guerra também afina pelo mesmo diapasão e escreve:

(...)Portanto, o reino de Santana Lopes é desta terra mas a sua ambição é sideral. Ou seja, o projecto é do domínio do fantástico e do oculto, povoado por miragens e sombras e o primeiro-ministro escolheu para si o papel o papel de vidente, possesso ou hipnótico.

Talvez por isso mesmo, a hipnose começou pelo esmagamento da única voz crítica que se ergueu no Congresso –que mereceu a resposta explícita e sem direito a tréplica do presidente e de um dos vices – e pela diabolização das liberdades de imprensa e de expressão.(...)

(...) Dez revoluções da terra em torno do sol constituem o projecto de poder para fazer “subir o astral” do país. Vã glória, pura jactância. Claro que a terra e o país vão seguir o seu percurso astral, independentemente dos políticos. E estes é que vão “caindo, caindo, caindo, caindo sempre, e sempre, ininterruptamente, na razão directa dos quadrados dos tempos” (António Gedeão, Poema para Galileu).

Comentário Abre-Surdo:Mas qual é o espanto? Então os senhores não sabiam, ou estavam esquecidos que, segundo o anterior primeiro-ministro, Portugal tem hoje como chefe de governo, uma, curiosa e original, mistura de Zandinga com Gabriel Alves? Espantoso é não ter havido metáforas futebolisticas. Mas não perdemos por esperar.





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