15.12.04

Compromisso Portugal (mais um caso de para-a-frentismo)

O “compromisso Portugal” lá se fez receber por Santana e por Sócrates. Até aí tudo bem. Só que, é preciso dizer claramente, não são apenas um grupo da sociedade civil. Apenas integram gestores e empresários. São um grupo de pressão. Um grupo de interesses. Mas não é isso, normal? Claro que sim, o problema é que adoptaram a interessante táctica do discurso suprapartidário e suprapolítico. Não querem fazer parte de nenhum governo, mas as suas propostas são “fundamentais para o desenvolvimento do país. E quais são os supostos interesses do país? Está-se mesmo a adivinhar não? Por trás de palavras bonitas como educação, justiça e mais e melhor emprego lá vêm as propostas concretas:

"Um sistema fiscal competitivo, transparente e minimizador da evasão fiscal".
Dizendo de forma simples: reduzir os impostos (esta escrito claramente nas 7 propostas genéricas). Não será difícil adivinhar que impostos querem estes empresários ver reduzidos.


"A afirmação de Portugal tem de ser feita pela positiva no contexto de um mundo global de mercados abertos em concorrência não cedendo a tentação fácil do proteccionismo.
(declaração de Alcântara, Abril 2004). "

Querem menos impostos, mas não querem um estado proteccionista. Pode parecer uma contradição, mas não é. O proteccionismo a que querem eliminar é o tal que “dá um falsa sensação de segurança ao cidadãos” . Traduzindo: Querem flexibilização do mercado de trabalho

Às vezes lá se descaem e esquecem o tal discurso “do que é fundamental para o país”:

O papel de gestores e empresários é de internamente nas suas empresas e instituições se empenharem na melhoria da respectiva gestão e de externamente pressionarem para que as condições de enquadramento sejam alteradas, nomeadamente quanto à criação de condições favoráveis à atracção consolidação e rentabilização dos investimentos e activos físicos e humanos de forma a garantir maior criação de riqueza. (…)

Mas depois lá continuam com o seu discurso mais habitual e então todos aqueles que criticam as suas propostas são pessoas e grupos "resistentes à mudança", porque ou herdaram uma "cultura de estado novo" ou "tabus e mitos do pós-25 de Abril”.

Há uns tempos atrás citei Taguieff .
Agora cito Chomsky:

Como foi possível à Europa e aos que escaparam ao seu domínio serem bem-sucedidos no que respeita ao desenvolvimento? (…) Pela radical violação da doutrina aprovada do livre mercado. Esta conclusão é válida desde a Inglaterra até as regiões hoje maoir crescimento situadas no sudoeste asiático e seguramente incluindo os Estados Unidos, o campeão do proteccionismo desde as suas origens. ( in Neoliberalismo e Ordem Global - Crítica do Lucro)

Que a doutrina do livre mercado seja algo para ser adoptado pelos outros é coisa que não é novidade para os empresários e líderes Americanos, Ingleses e Japoneses. Mas para os empresários Portugueses é. Ou então.... . Voltarei a este assunto.

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