12.2.05

coisas translúcidas ( ideologia e medo), Por Joel R.

O mundo em que vivemos transporta-nos para um cinismo ideológico confuso, mas gritante e generalizado. Hoje, verifica-se que o mundo está subalternizado à Potencia das Potências não só por causa do seu poderio militar, mas também pelo modelo económico aí adoptado que se pretende seja entendido por todos como o único democrático. A “síndrome de Estocolmo” tem funcionado em pleno vigor e as ameaças aos desobedientes e maus alunos são conhecidas.

O que então sobra aos ideólogos partidários (leia-se políticos)? Agarrarem-se à ciência como matéria justificativa de uma política de medo. Ora, só a economia sintetiza as outras ciências naquilo que elas têm de social. E nesse entendimento não vejo diferenças substanciais nos partidos políticos da Europa.
De facto, no caso de Portugal qual a diferença substancial entre o Bloco de Esquerda e o PP? Qual a diferença ideológica entre o PPD/PSD e o Partido Comunista? E entre qualquer destes e o PS? Será talvez a questão aborto e enquanto este não for ‘’economicamente’’ rentável. Bastaria que houvesse uma especialidade medico-abortativa com Ordem própria e tudo que trouxesse a Portugal todas as senhoras do mundo com essa necessidade, teríamos muito possivelmente o Paulo Portas a advogar o aborto como meio de salvar vidas e na defesa da criação de um "Ministério dos Abortos".

Repara que o PP (Paulo Portas) diz que salvou cerca de 2000 postos de trabalho nas OGMA, PSL, afirma em pleno Parlamento que surpreendeu a esquerda por ter oferecido aquilo que a esquerda sempre desejou. O PS diz agora que vai mandar para a rua 75.000 funcionários públicos e o PCP e BE defendem a criação de pequenos e médios empresários como formula para salvar Portugal. O PCP defende a produção de carros de combate na Bombardier. Não parece estar tudo ao contrário? Onde estão os antigos alicerces, valores e fronteiras entre Esquerda e Direita?

Na minha opinião, e nestas circunstâncias uma fusão de todos os partidos seria não só útil mas desejável e necessária. E digo isto por que sairia mais económico, pois reduzia-se o número e custo dos salários, os benefícios dos deputados, funcionários parlamentares e do Governo. Seria mais salutar porque o fígado de todos os portugueses beneficiaria com as gargalhadas que sempre provocam os argumentos e trapalhadas de SL. Assim os assuntos a discutir poderiam ser mais transparentes e de ordem diversa como por exemplo o casamento entre homossexuais, a proibição da produção de vinagre (que cria o azedume e azia) e por contrapartida aumento da produção de insecticidas (para o caruncho).
Podia-se ainda vetar a produção e/ou importação de vídeo e/ou áudio cassetes.

Em Africa ou pelo menos em Angola, as coisas são mais translúcidas. Com medo de qualquer adjectivação do que foram no passado, dos 220 partidos Angolanos, nenhum se afirma de direita ou de esquerda. Isso foi no tempo da guerra-fria. Hoje são todos partidos de uma palavra que rima com esquerda. O medo e o aproveitamento ideológico fazem com que alinhem com a síndrome mundial potenciando apenas o aproveitamento daquilo que a neo-liberalização trás de pior.

Finalmente, deixa-me dizer-te, estou crente que a economia é comparável à energia atómica. Da mesma maneira que esta depende das mãos que a controlam, a economia é suficientemente perigosa para deixa-la apenas nas mãos dos economistas, sejam eles tecnocratas ou políticos de direita ou de esquerda. Enquanto ciência, a economia não tem laboratórios experimentais nem de análise prévia. Qualquer erro será dramaticamente pago, a curto ou a longo prazo, pela sociedade onde a experiência se aplicou. Acredito que o melhor, para a economia e para os economistas, é deixar que estes sejam apenas os sintetizadores daquilo que as diversas politicas e políticos têm para fornecer àquela.

Ao inverso, aqui em Angola, nos trinta anos de independência, apenas quatro dos doze que ministraram a economia eram economistas. E que resultados obtivemos….

Um abraço
Joel Rodrigues.

Na estou de acordo com tudo o que o "kota" Joel escreve.

Acredito que ainda há diferenças ideológicas entre os partidos de esquerda e direita. Diferenças profundas. Já acredito menos nas diferenças entre o PS e o PSD. Há uma diferença que é apenas relativa a este momento histórico: Seriedade e Credibilidade: O líder actual do PSD não tem nenhuma das duas. Mas isto é algo restrito a este período que se vive. Passado este epifenómeno, voltarão a ser dois partidos diferentes naquilo em que são iguais.

Em alguns casos acho que alguns "dados" foram mal interpretados. Por exemplo o PS não disse que ia mandar para a rua 75.000 funcionários públicos. Disse é que iria apenas admitir na função pública metade do numero daqueles que se reformassem.

Estas críticas e desacordos não invalidam a meu ver o interesse do texto.

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