25.8.05

Fast 'N' Bulbous: rapidez para a bulha, mas com o bolbo ressequido

O “Jazz e Arredores” gostou. Eu não.

Sinceramente esta música envelheceu muito mal. O som da guitarra parecia de um qualquer guitarrista texano tocando no “Ok Curral”; a secção rítmica ( baterista e baixista) tinham a subtileza de um casal de rinocerontes. Também a música não pedia mais. Entre a secção de metais, havia dois razoáveis improvisadores ( saxofonista alto e trombonista), que mantiveram ao longo do concerto um esforço inglório, "afogados" que eram pelo trio roqueiro de guitarra, baixo e bateria, os amantes de "licks" ultrapassados. Ok, faço uma concessão: estes músicos são ainda assim melhores que os U2 ou qualquer outra das 20 bandas top do momento. Mas não são músicos de jazz . Tocam rock, um rock que nos anos 70 era pra “frentex”, um rock talvez complexo. Mas que ainda assim não é jazz. Chamem-lhe qualquer outra coisa.

O que me deixa espantado é a passividade e até mesmo entusiasmo com que alguns dos amantes, divulgadores e críticos os acolheram. Pergunto ao pessoal, em jeito de provocação se objectividade analítica não foi um pouco toldada pela nostalgia. Se assim for, percebe-se: Esta foi uma música de uma época muito especial.


Para uma coisa este concerto serviu, foi mais um contributo para levantar grandes duvidas sobre se podemos continuar a pensar neste festival como um festival de jazz. É verdade que vieram Susie Ibarra, Mark Dresser, Michael Sarin. Mas será que este ainda é um festival de jazz? Parece-me mais um talvez um festival de música(s) improvisada(s) e de improvisadores. É também um festival de muita nostalgia por vanguardas de há 30 ou quarenta anos atrás. Ainda assim, pode uma festival de jazz que já acolheu músicos como Elvin Jones, Chico Freeman, Roy Hargrove, Bobby Hutcherson, John Scofield, Joe Lovano, Dave Holland, Wadada Leo Smith, Jack De Johnette, encerrar com um grupo tocando a musica Sub-Zappiana de Captain Beefheart? É caso par perguntar onde está o Jazz, onde está a “Vanguarda” e até mesmo, onde está a improvisação. No concerto dos Fast´N´Bulbous não ouvi nenhuma das três.

12.8.05


Tons de Tom

Isso virou um “jazz” danado...

Almir Chediak-
Na sua formação quais eram as músicas que você gostava mais?

Tom Jobim -
Vamos pela ordem. No terreno popular, os músicos brasileiros que já citamos [ Ary Barroso, Dorival Caymmi, Pixinguinha, Garoto, Custódio Mesquita, Noel Rosa, José Maria de Abreu, Lamartine Babo, Ismael Silva, o Wilson Batista, Ataulfo Alves, João de Barro, Bororó].

No terreno erudito, o Villa-Lobos, Debussy, , Ravel, Bach, Beethoven, etc. Mas Villa-Lobos e Debussy são influências profundas na minha cabeça.

Ao Jazz, ao verdadeiro jazz não tive muito acesso. O que a gente ouvia aqui não era o jazz. Eram aquelas orquestras norte-americanas. O negócio do jazz era para coleccionador, para um cara rico, playboy coisa assim. Não sou um profundo conhecedor de jazz. Depois eu vi que os puristas daqui diziam que a Bossa Nova era "em cima" do jazz. Isso virou um “jazz” danado.

Quando esse pessoal dizia que a harmonia da Bossa Nova era americana, eu achava engraçado porque essa mesma harmonia já estava em Debussy. Não era americana coisa nenhuma. Chamar ao acorde de nona de uma invenção americana é um absurdo. Esses acordes de décima primeira, décima terceira, alteradas com tensões, com adendos, com notas acrescentadas, isso aí, você não pode chamar de americano. É americano do Norte, mas é americano do Sul também.

O americano pegou a Bossa Nova porque achou interessante. Se fosse uma cópia do jazz não interessaria. Cópia do jazz eles estão cansados de conhecer. Tem jazz sueco, jazz francês, jazz alemão – Alemão está cheio de jazz.

Depois passou-se a chamar jazz a tudo o que balança. Ora o que balança está nos Estados Unidos, em Cuba e Brasil. Isso é que balança. O resto vai de valsa, com os devidos respeitos para os austríacos.

Essa coisa do samba é por aqui: Brasil, Cuba – e todo o Caribe naturalmente – e os Estados Unidos. É claro, tem o Peru, mas ali é negócio de índio, é outra influência. Tem ritmos interessantes, como tem no Chile, no México, etc, mas não é a essência que nós temos – um negócio negro com um negócio branco.

É um problema de nomenclatura. É latin jazz, brazilian jazz, daqui a pouco a gente não sabe do que está falando. Se jazz fosse tudo o que balança, a música brasileira seria puro jazz. É preciso livrar o Brasil desses esquemas que acabaram inventando.

Eu enfrentei preconceitos enormes. Tocava uma nona e diziam que “o Tom toca be-bop”. Diziam que o [João] Donato era be-bopeiro, veja só. A gente tocava uma quarta aumentada, décima primeira e aparecia logo aquele cara para dizer : “olha aí. É be-bopeiro”. Isso vem naturalmente do facto de o Brasil ser um país de poucos pianos. A pessoa tinha poucas chances de tocar esses acordes, até porque, no violão, vocês precisa completar esses acordes com o cavaquinho. Se você quiser complicar ou ter muitas segundas juntas na parte harmónica, vai ter que fazer com dois violões. Ou inventar, como faz o Egberto Gismonti, que bota mais cordas no violão.

- Songbook Tom Jobim, 2º Volume, Lumiar Editora