18.3.05


Deslumbrando os Olhos: Girl in the Rain, Steve Daniel Posted by Hello

Coisas Lidas: ....Chuva Refundadora

(....)ainda não reparei se o professor Marcelo já começou a criticar o novo Governo, se Freitas do Amaral já virou pró-americano, se Luís Delgado ainda continua a chorar pelo "Pedro", se Eduardo Prado Coelho já desistiu de fuzilar o Luís Delgado e de promover, semana sim semana não, Manuel Maria Carrilho a qualquer coisa, e se Jaime Nogueira Pinto já começou a "refundar a direita", com base nos valores defendidos pelo "doutor Salazar" - Deus, Pátria, Família - acrescentados de um quarto, de sua lavra: "A Propriedade!"

O que eu queria mesmo agora é que chovesse sobre nós. Uma chuva densa, constante, dias a fio. Uma chuva que tudo lavasse, que devolvesse a esperança onde só há desilusão, que reanimasse todas as coisas verdadeiramente importantes. Uma chuva refundadora.


Miguel Sousa Tavares in "Aos Seus Lugares", no Público

16.3.05


fonte: www.habett.org Posted by Hello

Coisas Lidas: Imigração (2)

Seis em dez portugueses resistentes à imigração

Portugal foi o quarto país, entre os Vinte e Cinco que actualmente compõem a União Europeia, a revelar uma maior "resistência aos imigrantes", com 62,5 por cento dos inquiridos a responderem contra a entrada de mais estrangeiros no país - número superior à média, que se situou nos 50 por cento. Os portugueses revelaram-se reservados quando colocados perante a imigração de indivíduos de "outras raças ou etnias", perante "imigrantes dos países mais pobres da Europa" e perante "imigrantes dos países mais pobres fora da Europa".

À frente de Portugal, neste tópico, ficou a Grécia (87,5%), a recém-chegada Hungria (86,5%) e a Áustria (64,5%). Os números mostram ainda que os países nórdicos e os da Europa Ocidental menosprezam esta questão em favor da "resistência aos requerentes de asilo" (esta distinção tem a ver com o facto de existir, nestas regiões, um maior número de estrangeiros que entram com o título de refugiados, ao contrário do que sucede nos países mediterrâneos, onde prevalece a imigração económica). Os portugueses mostraram-se ainda muito "resistentes à diversidade" (sete em cada dez), posicionando-se apenas atrás da Grécia.


Grécia é o país mais xenófobo da Europa

(...). Tal como é notório que a Suécia é o país da União Europeia que é mais tolerante perante a migração e o convívio com outras etnias, resulta das estatísticas que os gregos são, de longe, os mais xenófobos. A Grécia, de entre os 25 Estados-membros, lidera seis das dez tabelas que serviram de indicador dos sentimentos perante as migrações. Os gregos colocaram-se à frente de todas as outras populações europeias nas questões relativas às "ameaças étnicas", à "distância étnica", à "resistência à diversidade", à "resistência aos imigrantes", à "resistência a uma sociedade multicultural" e aos "limites a uma sociedade multicultural".

Coisas Lidas: Imigração

Metade dos europeus contra entrada de imigrantes

Os resultados do maior estudo já feito na União Europeia (UE) sobre racismo e xenofobia não permitem conclusões unívocas sobre o grau de discriminação dos migrantes. Mas deixam claro uma tendência: metade dos europeus, sobretudo os menos instruídos e com empregos precários, embora aceite conviver com outras etnias, é contra a entrada de mais estrangeiros. Feito com base em dois inquéritos diferentes, o relatório apresentado ontem pelo Observatório Europeu dos Fenómenos Racistas e Xenófobos - intitulado Atitudes das maiorias perante as minorias - revela que 50 por cento da população está contra a entrada de mais imigrantes. Resulta também das estatísticas que as classes com qualificações mais baixas, residentes em meio rural e com salários inferiores, mostram atitudes mais agressivas contra os imigrantes, receando a sua concorrência no mercado de trabalho. (....)

A Grécia aparece destacada como o país da União Europeia mais temeroso dos imigrantes e das minorias étnicas.De destacar ainda o facto de os números atestarem a vontade, já avançada por outras sondagens, dos britânicos e dos belgas em restringir a entrada e os direitos dos requerentes de asilo. Outrora países com forte tradição no acolhimento de refugiados, metade das suas populações são actualmente contra a entrada de mais requerentes de asilo, segundo os dados do Inquérito Social Europeu.

Portugal posiciona-se de forma dúbia, destacando-se negativamente pela "resistência aos imigrantes" e à "diversidade".

Os países nórdicos fazem justiça à fama, posicionando-se consistentemente na base do ranking dos países mais fechados. Há, ainda assim, diferenças entre eles, com a Finlândia mais resistente à imigração, a Dinamarca mais moderada e a Suécia a colocar-se de forma evidente como o país mais tolerante e cooperante da União Europeia (surge como o menos "resistente aos imigrantes", menos "resistente aos requerentes de asilo", menos "favorável a uma distância étnica" e que menos sente "uma ameaça étnica"(...).

Transversais a todos os Estados e regiões são alguns padrões socioculturais. As pessoas mais jovens "expressam uma maior abertura relativamente à diversidade". Também aqueles que têm um maior contacto com os migrantes e as minorias, ou seja, as populações urbanas são mais empenhados numa sociedade multicultural do que quem vive em zonas rurais.

O Observatório Europeu dos Fenómenos Racistas e Xenófobos, fundado em 1997 e sediado em Viena, Áustria, é uma agência da União Europeia destinada a recolher informação sobre a discriminação na União Europeia.Os inquéritos do Eurobarómetro foram realizados, em média, a mil pessoas de cada um dos Estados-membros, entre 1997 e 2003. No que respeita ao Inquérito Social Europeu, fizeram-se entre 1500 a 2500 entrevistas na maior parte dos países, em 2002 e 2003

Encontros Lusófonos

Começam amanhã, na Universidade de Lisboa, os "Encontros Lusófonos"

Eis uma súmula do programa

Dia 17
O cíclo de debates e conferências começa logo pelas 9h30 da manhã com o tema: "O Acordo Ortográfico:as vantangens para os países da CPLP, os entraves e as histórias das negociações que começaram há 15 anos". Nele participam Malaca Casteleiro, Carlos Ribeiro de Xavier e Amélia Mingas

A tarde há uma mesa redonda para discutir "As expectativas da escrita em Português- O que esperam da literatura os actores da escrita" .Nela participam Possidónio Cachapa, Dina Salústio, Teolinda Gersão e Ondjaki.

A partir das 21h temos então concertos: Mariza, Tabanka Djaz e ( o Inevitável) Bonga.

Dia 18

Na Sexta-Feira passa as 9h30 o filme "Os olhos azuis de Yonta" do guineense Flora Gomes, estando previsto um debate posterior com a presença de Flora Gomes e Teresa Nicolau.

À tarde, entre as 16h30 e as 18 e fala o Ministro Gilberto Gilcontando com a presença de José Barata Moura, Reitor da Universidade de Lisboa. "Difusão da cultura brasileira" é o tema.

A noite continua a música: Ivan Lins, Tito Paris , Costa Neto e Filipe Santo


Dia 19
No último dia, sábado, o ciclo de debates ainda está em aberto.

À noite os concertos serão de Maria da Fé, José Amaral e Rui Veloso.

Mais informações no Site : http://www.encontroslusofonos.com/

Nota à parte: No programa que se pode ler no site, Gilberto Gil e Ondjaki aparecem com o título Dr. Assim mesmo: Dr.Ondjaki. O que é curioso e no mínimo original: o título da pessoa ser transferido para o pseudónimo literário. (Alguém se lembraria de nos "Contos da Montanha", colocar "Dr.Miguel Torga"?). É caso para dizer,que "não habia nexexidade". Mesmo sendo o local do evento uma Universidade.

obrigado à Φ, pela dica


15.3.05

David Borges

Ouvia hoje, por acaso, a emissão da RDP-África e era um programa emitido ao vivo. Só após alguns minutos percebi: Era um programa de homenagem a David Borges, que vai sair da RDP-África. Parece que foi ( compulsivamente?) reformado.

Ouvi David Borges falar das coisas que tentou durante estes anos todos fazer. Do que conseguiu, do que não conseguiu e do que simplesmente desconseguiu, não por falta de vontade ou empenho, mas por causas exteriores, por causas dos muros que sempre se erguem, sendo que o maior deles é, muitas vezes, a indiferença. Como exemplo lembrou o lançamento de um livro de Pepetela pouco tempo depois deste ter ganho o prémio Camões e como mesmo assim a "elite cultural" portuguesa ignorou o dito. Lembrou como foi organizado o dia de África no passeio marítimo de Algés reunindo mais de 100.000 pessoas (maioritariamente negros e africanos) , e como mesmo assim tal foi simplesmente ignorado pelos "média". Riscado, não aconteceu. Borges lembrou outras coisas. E duvidou: duvidou que ainda tivesse alguma coisa para dizer; duvidou que ainda tivesse algo para transmitir; duvidou que ainda pudesse ensinar alguma coisa aos seus colegas de trabalho. David Borges parecia nostálgico e um pouco amargurado. Não por ele, mas pela constatação do quão dificil continua a ser nos dias do hoje trazer um pouco do cheiro das Áfricas lusófonas para Portugal. "Ninguém quer saber" exemplificou: "música Cabo-Verdiana não passa nas rádios. Cesária Évora... um pouco e nada mais. Ildo Lobo morreu e pouco se interessaram, quase ninguém disse ou fez alguma coisa"

David Borges tem razão.

Não resisto a copiar a "vinheta" do fbonito: "Daqui, deste pequeno canto do cyberespaço"- pela voz, pela energia e pela vontade. Por todos estes anos. Por tudo - Obrigado David Borges.

E lembra-te: não aceitamos que te cales.

Coisas Lidas: Eduardo Prado Coelho

Há concertos que ficam, há concertos que se apagam no tempo. Os primeiros deixaram-nos um sentimento de felicidade, como se o tempo se tivesse rompido e tivéssemos entrado e caminhado numa planura de encantamento. Este é o caso duma noite em que fui ouvir Simone no Coliseu, e uma imensa energia ficou dentro de mim. Sei que as noites não se repetem. Nem os concertos. Mas apetece-me ir ouvir de novo Simone, na convicção de que algo, não igual, mas semelhante, possa acontecer. Como aconteceu com Caetano Veloso. Ou Gilberto Gil, Marisa Montes ou Betânia. A música brasileira deixa-nos num estado de felicidade. Numa noite em que saía do Pavilhão Atlântico, depois de ter ouvido Bethânia e Caetano, alguém que eu não conhecia veio perguntar-me: "Então sente-se feliz?" Respondi que sim, mas o que me fazia feliz era sobretudo aquela espécie de cumplicidade que unia as pessoas. Um pouco mais de transparência - sabendo eu, mas isto é um segredo entre nós, que aquilo que se vê através da transparência é muitas vezes a opacidade que nos constitui.

14.3.05

A excelência de Maria José Nogueira Pinto (3): Palavras para quê?

No programa "Diga lá, Excelência" há, no final , o chamado “jogo das palavras”: O jornalista diz uma palavra e o entrevistado responde com outra que achar apropriada. No caso de Maria José Nogueira Pinto foi assim:

Jornalista- Angola?
Maria José Nogueira Pinto- Perdida
.


O abre-surdo, por razões óbvias, abstém-se de fazer comentários.

A "excelência" de Maria José Nogueira Pinto (2)

Portugal não tem um projecto nacional desde 1974. O que é que nós queremos que Portugal seja.

A esquerda socialista diz que é atingir os níveis médios de desenvolvimento da União Europeia...

Mas é por isso que eu não sou de esquerda. Porque eu choraria se dissesse que o objectivo de um país com nove séculos é atingir uns indicadores...

Mas esses indicadores revelam a vida das pessoas.

Pois, só revelam isso. Mas as comunidades são muito mais do as pessoas. Em 24 de Abril de 1974, bem ou mal, goste-se ou não se goste, Portugal tinha um projecto nacional. E a pergunta que os portugueses fazem é: este país se não é do Minho a Timor, é o quê? Esta resposta ninguém deu. Houve um momento em que o desígnio era fazermos parte da União Europeia; agora é não ficarmos atrás dos países do alargamento.

E esses desígnios são pequeninos, no seu entender?


Completamente, são de um país que foi obrigado a perder a sua auto-estima e que foi obrigado a perder aos poucos a sua identidade


Se não fosse preocupante, seria apenas triste ver uma mulher inteligente e politicamente activa como Maria José Nogueira Pinto não conseguir, até hoje, perceber o que é Portugal fora de um contexto imperial/colonial e continuar a acreditar que a auto-estima portuguesa dependia da mentira do desígnio civilizacional.

Adenda: O Abre-Surdo, humildemente, sugere a Maria José Nogueira Pinto que, para efeitos de obtenção- ainda que em doses comedidas- daquela virtude chamada pudor, (re)leia a "Brevíssima relação da destruição de África" de Bartolomé de las Casas.

A "excelência" de Maria José Nogueira Pinto

A que se ficou a dever a hecatombe da direita no dia 20?

Há o aparecimento de um eleitorado novo, que é aquele que dá o aumento do Bloco de Esquerda. É um eleitorado que é já a geração das imagens, que tem da vida em geral,, e da política em particular, uma cultura imagética. São as pessoas que percebem a realidade só através das imagens da televisão, com muito pouca capacidade para descriptar essas mensagens.

Está a menosprezar uma série de portugueses...

Não, não estou. Estou a fazer um juízo negativo de uma parte da população portuguesa dizendo que não tem culpa nenhuma, mas é produto de um sistema de educação péssimo. Substituímos o analfabetismo pela ileteracia e isto num país em que os "media" de imagem têm um impacto tremendo.


Ou seja o BE, que teve como cabeças de lista professores universitários como Fernando Rosas, José Manuel Pureza, Francisco Louçã e João Teixeira Lopes, foi votado maciçamente por uma cambada de iletrados, brutos, burros e feios que, basicamente, passam 16 horas por dia a frente da “caixa de idiotices”.

Bravo, Maria José, que astúcia, que perspicácia, que sagacidade, verdadeiramente brilhante. Coisa fina mesmo!


Mas a "coisa" fica "melhor" :

A culpa não é do povo. Pelo menos não totalmente. O povo na realidade nunca tem culpa, já que é português e portanto, intrinsecamente bom. A culpa é da educação que, coitados, receberam. Há pois que reeducar a maralha rapidamente e em força . Com certeza que se vai a tempo. Em primeiro lugar é fundamental que aprendam a não votar nunca em trotkistas. Independentemente do que digam, foram trotskistas, são trotskistas, ponto final.

Ah, grande Maria José

13.3.05


?, Edgardo Xavier Posted by Hello


Terricolas, Eleutério Sanches Posted by Hello

African Atrocities: 10 Downing Street´s Gulag

em formato PDF, um texto de Ashley Pettus, na Harvard Magazine

12.3.05

Dois Livros sobre as atrocidades britânicas no Kenia

HISTORIES OF THE HANGED: Britain’s Dirty War in Kenya and the End of Empire By David Anderson

BRITAIN’S GULAG: The Brutal End of Empire in Kenya
By Caroline Elkins


How did they get away with it? By Bernard Porter

(...)It is the scale of the British atrocities in Kenya that is the most startling revelation of these books. We always knew about the Mau Mau atrocities, of course: assiduously retailed to the British public by the authorities in Kenya through the Colonial Office, and right-wing newspapers like the Daily Mail. (Elkins calls the Daily Mail a ‘tabloid’, which isn’t strictly true for this period, but seems to fit in other ways.) But for years the equally savage abuses by British officers and their African collaborators in the detention camps, controlled villages and courtrooms of Kenya were mostly hidden from people at home. They knew some of it – indeed, did what they could to put an end to it after the scandalous British beatings of detainees at Hola camp in 1959, which left 11 dead and 60 seriously wounded – but nothing like the whole. Alan Lennox-Boyd, colonial secretary for much of this period, and one of the villains of both these books, can take much of the credit. First he denied abuses, then when that was no longer possible he dismissed them as exceptional (‘bad apples’), and appealed to his critics to remember what they were up against in Kenya: not an ordinary policing problem, but an outbreak of atavistic ‘evil’ – a useful word when you are confronting something you don’t understand. ‘Duplicity at its finest’, Elkins calls this. He also had a nice line in discrediting whistle-blowers. Then, when the British eventually left Kenya, they made bonfires of most of the incriminating material about the detention camps. Jomo Kenyatta, Kenya’s first president, connived in this, anxious in the interests of national unity to ‘erase’ the past, and not to encourage the ‘hooligans’ of Mau Mau. (It was a bit like South Africa’s ‘truth and reconciliation’, but without the truth.) Elkins tells us that she was taken in by Colonial Office propaganda at the beginning of her research, as she leafed through the files at the Public Record Office, and realised the extent of their mendacity only when she went out to Kenya to see and hear for herself. This may be part of the reason for the anger that suffuses her narrative, in contrast to Anderson’s more clinical, dispassionate tone. No one likes to be duped; on the other hand, there is much here to be angry about.

Anderson focuses mainly on the trials of Mau Mau suspects. He has read the trial transcripts and pieced together a picture of systematic injustice. Defendants were poorly represented, convicted on highly dubious evidence, often from dodgy informers, or after having confessions beaten out of them, by judges who were usually highly prejudiced. One judge was (effectively) bribed to reach a guilty verdict: he was paid £20,000 to come out from Britain to put Kenyatta behind barbed wire in 1953. Many defendants were hanged for much lesser offences than murder; often they were innocent. The number hanged, 1090, was a record for any British colony of the time, and more even than were executed by the French in Algeria. The reprieved and acquitted did not go free. Most were sent to camps for interrogation or ‘re-education’ – or just to rot away out of sight of nervous Europeans. Most of the rest of the Kikuyu population (including thousands from Nairobi) were herded into ‘emergency villages’ enclosed in barbed wire. All this turned Kenya into what Anderson calls ‘a police state in the very fullest sense of that term’.

The camps and emergency villages are where Elkins takes up the story. Some of her evidence comes from rare surviving documentation, but the most vivid is from the recollections of Kikuyu themselves. There are problems with this kind of testimony, of course. ‘Virtually all Kikuyus claim to have belonged to the Mau Mau,’ Kwamchetsi Makokha writes in his review of these books in the New Statesman, ‘regardless of whether they were even alive in the 1950s. Africans love stories; they tell them and retell them over and over again. Tales are communally owned, and it is not considered an abominable act of plagiarism to present another person’s story as your own. All this makes Elkins’s reliance on oral testimonies problematic.’ There may be something in this. But Elkins is aware of these pitfalls, and tells us she has done what she can to avoid them. She is convinced that her sources opened up to her because she is an American. Many of her accounts corroborate one another, and are corroborated in their turn by the surviving written evidence. More telling, perhaps, they are often confirmed by the white settlers she has interviewed, who ‘still seemed to take delight in their handiwork during Mau Mau. They spoke of heinous tortures as if they were describing yesterday’s weather; for them the brutality they perpetrated during the Emergency is as banal today as it was some fifty years ago.’ In case we think that they are merely winding her up in some perverse macho way because she is a woman, Anderson found exactly the same thing. As well as confirming many of the victims’ accounts, this seems to indicate that the brutality was endemic in what Anderson calls the ‘culture of impunity’ of the period; which in itself gives the lie to Lennox-Boyd’s ‘bad apples’ defence.

It was a culture of routine beatings, starvation, killings (the hanged represent only a small fraction of those who died in British custody during the Emergency) and torture of the most grotesque kinds. Alsatian dogs were used to terrify prisoners and then ‘maul’ them. There are other similarities with Abu Ghraib: various indignities were devised using human faeces; men were forced to sodomise one another. They also had sand, pepper and water stuffed in their anuses. One apparently had his testicles cut off, and was then made to eat them. ‘Things got a little out of hand,’ one (macho European) witness told Elkins, referring to another incident. ‘By the time we cut his balls off he had no ears, and his eyeball, the right one, I think, was hanging out of its socket. Too bad, he died before we got much out of him.’ Women were gang-raped, had their nipples squeezed with pliers, and vermin and hot eggs thrust into their vaginas. Children were butchered and their body parts paraded around on spears. Then there were the pettier deprivations: women forbidden to sing hymns in Komiti camp, for example, because they were putting ‘subversive’ words to them. All this while anti-Mau Mau and pro-British propaganda blared out at detainees from loudspeakers. Anderson quotes the testimony of a European officer in 1962, recalling an attempt to interrogate some ‘Mickeys’ – a slang name for the Mau Mau.

They wouldn’t say a thing, of course, and one of them, a tall coal-black bastard, kept grinning at me, real insolent. I slapped him hard, but he kept right on grinning at me, so I kicked him in the balls as hard as I could. He went down in a heap but when he finally got up on his feet he grinned at me again and I snapped, I really did. I stuck my revolver right in his grinning mouth and I said something, I don’t remember what, and I pulled the trigger. His brains went all over the side of the police station. The other two Mickeys were standing there looking blank. I said to them that if they didn’t tell me where to find the rest of the gang I’d kill them too. They didn’t say a word so I shot them both. One wasn’t dead so I shot him in the ear. When the sub-inspector drove up, I told him that the Mickeys tried to escape. He didn’t believe me but all he said was ‘bury them and see the wall is cleared up.’

The significant thing here (apart from the refusal of the three prisoners to co-operate) is that the officer had no qualms about describing all this.

Elkins has been criticised in some reviews for using the analogy with Nazism too freely. But nearly all the references in her book to ‘concentration camps’, the ‘Gestapo’ and so on come from contemporary accounts. Most were by critics, including some inside the system, but not all. In March 1953 a British policeman wrote a letter to his buddies back at Streatham police station bragging about the ‘Gestapo stuff’ that was going on in his new posting in Nyeri. All this happened a few years after the war, so such analogies came quickly to mind. The critics – many of whom had fought against Nazi Germany – knew what they were talking about. One relatively liberal police chief in Kenya claimed that conditions in the detention camps were far worse than those he had suffered as a Japanese POW. Comparisons were also made with the Soviet gulags, and, later on, by a former defence lawyer for the Mau Mau, with ‘ethnic cleansing’. The accepted view of Britain’s decolonisation hitherto has been that it was done in a more dignified, enlightened and consensual way than by other countries – meaning, of course, France. It will be difficult now to argue this so glibly. Kenya was Britain’s Algeria.

Was it typical? Possibly not. Anderson makes a big point of Kenya’s ‘exceptionality in the use of judicial execution’ compared with other British colonies, as well as in other ways. Elkins doesn’t entirely agree – ‘it was there,’ she says, ‘that Britain finally revealed the true nature of its civilising mission’ – but even she acknowledges that Kenya ‘stands apart’ from Britain’s other colonies in many respects. This had partly to do with the nature of the Mau Mau phenomenon, misunderstood at the time by those who refused to acknowledge the Kikuyus’ huge grievance about the land expropriated from them, which both these authors agree was at the root of the revolt. Mau Mau was described instead in terms of a disease (even by Kenyatta), or seen as an example of a peculiarly African, ‘primitive’ psychopathology. Elkins points out that this was the view in the United States. Perhaps there was a racist element to this kind of analysis, though many of the early manifestations of Mau Mau genuinely were savage: Mau Mau had many of the characteristics of a secret society – members had to swear a ritual oath and the punishment for breaking ranks, or even refusing to take the oath, was death. The Daily Mail did not make it all up.

Anderson gives more detailed attention than Elkins to all this: to the much publicised killings of white men, women and children around the turn of 1952-53; to the original massacre of Kikuyu ‘loyalists’ by Mau Mau at Lari in March 1953 (even more brutal loyalist reprisals followed); or to the practice of clitoridectomy among the Kikuyu, which was one of the main issues between them and the Christian churches early on. Mau Mau violence, as he points out, was more often directed against other Kikuyu – ‘traitors’ – than against the British authorities or the Kenyan settlers. To this extent the rebellion was also a civil war. Although Elkins denies none of this – ‘we should not romanticise the anti-colonial struggle,’ she says at one point – she doesn’t elaborate on it, which makes it difficult when reading her book to understand the panic that took hold of the settlers, the colonial administration and the African loyalists. The impact of Mau Mau terrorism can perhaps be compared with the effect of Hamas suicide bombings on Israelis today. It did not make a calm and considered response to the rebellion very likely.

Not that the white population of Kenya was likely to respond calmly and with consideration in any case. It is well known that settlers are generally the most problematic of colonists. (Again, look at Israel.) In Kenya this was exacerbated by their class origins. Most were upper middle class or even aristocratic; on their uppers before they left Britain, possibly, but social status in Britain has never been measured by wealth. A surprising proportion had been educated at public schools, including Eton. This is unusual in the history of British emigration. In Kenya, settled on fertile land taken from Africans, and with a huge pool of cheap African labour to work on their farms and as domestic servants, these odd characters could live the sort of life that their better-off chums in ‘socialist’ Britain were increasingly struggling to afford. The hedonistic, decadent lifestyle of many of them remains notorious today – ‘Happy Valley’ and all that. This may have been overplayed. More important, however, is the fact that they were cut off culturally from the majority of society in Britain, ‘strangely out of step’, as Anderson puts it, ‘with everywhere else’, with the exception perhaps of the white-dominated countries to the south of them. They were very often arrogant and brutal, and long before the Mau Mau revolt were accustomed to treating their ‘natives’ like dirt. It was they who started the violence. Their upper-class kin in Britain, on whom the settlers relied to defend them in Kenya (Elkins calls them the ‘Old Pals Protection Society’), ultimately lost patience with them. Churchill thought they were as much ‘the problem’ in Kenya as Mau Mau. (Churchill had a surprisingly favourable view of the Kikuyu: ‘not the primitive cowardly people which many imagined them to be’, he told one of the settler leaders, ‘but people of considerable fibre, ability and steel’.) The man he sent to sort the settlers out in 1953, General ‘Bobby’ Erskine, soon got the measure of them: ‘I hate the guts of them all,’ he wrote to his wife just a few months later. ‘They are all middle-class sluts.’ (How they would have hated that ‘middle-class’.) Kenya was ‘a sunny land for shady people’. By 1960 even the most reactionary of the upper classes back in Britain were ‘too embarrassed’ by their ‘excesses’ to defend the settlers any longer. The final nail in their coffin – though it turned out to be a pretty comfortable coffin, with Kenyatta letting them stay and hold on to their farms if they wanted – came when Lord Lambton, about as kosher an aristocrat as you could find in Britain, turned against them over Hola.

The puzzle is why they were allowed to get away with it for so long. It was not as if there were no protests in Britain. The British people have never been terribly interested in their empire, so a huge surge of feeling on the Kenya issue was unlikely. But the colony had more than its fair share of coverage in this period, both in Parliament (spearheaded by Barbara Castle, ‘that castellated bitch’, as a Kenyan attorney-general called her) and in the left-wing press. Castle and the others were helped by a stream of testimony from whistle-blowers in Kenya itself, which suggests a real unease there, among people who were decent (they would have said ‘British’) enough to object to what was going on. These included missionaries, as one would expect, although Elkins is critical of their unwillingness to speak publicly, mainly, she feels, because they needed government co-operation for their work of saving Mau Mau souls, and she accuses the Catholics of backing the colonial authorities. A number of judges, especially appeal court judges, spoke up. So did several soldiers and senior policemen, mainly those who had been sent in from Britain. Administrators like the Quaker Eileen Fletcher and even a few liberal settlers also raised their voices. They were not in time to save tens of thousands of African (and a few European) lives, though it was not for want of trying.

The critics lacked leverage over the Colonial Office, especially when the duplicitous Lennox-Boyd was in charge – a state of affairs compounded by the Colonial Office’s own lack of leverage over what was happening on the ground. This is an important and often underestimated factor in British imperial history. One thinks of an ‘empire’ as a system of control before anything else, but in Britain’s case, running its empire on a shoestring, the reality of control was very often compromised by the need to rule through – or at least with the passive connivance of – people on the ground. In Kenya, neither major group – the shady settlers or the aggrieved Africans – was an ideal vehicle for ‘indirect’ rule. The result was, as district officer Terence Gavaghan (nicknamed ‘Big Troublemaker’ by the Africans) put it, that ‘the gap between the supreme policy-makers with their grave political concerns, and the actions of local functionaries in a small remote place, was too wide for mutual comprehension or proper control.’ In other words, London would have found it difficult to change things even if it had wanted to.

At the same time, it seems clear that many in the Conservative government didn’t want to change things very much. Elkins has two, slightly contradictory explanations for this. The first is the conventional anti-imperialist one, that they simply wanted ‘to maintain colonial rule’. But Britain had already begun the process of decolonisation elsewhere, including in Africa. Lennox-Boyd certainly wanted to slow this down, and there seems to have been a ‘flicker of hope’ among some settlers that self-government, when it came, might give them disproportionate power, as in South Africa and (effectively) Southern Rhodesia, but that just shows how out of touch they were. (There were simply not enough of them.) The main consideration in Whitehall – Elkins alludes to this, too – was the place of the British Empire in the annals of history. That depended not only on what it could be claimed to have achieved while it was still living, but on the manner of its dying and the impression this made.

It had always been the proud boast of British imperialists (rather like American imperialists today) that their empire was uniquely beneficent; that its effect, if not its original purpose, was to spread ‘civilisation’ and even ‘freedom’ in the world. The upper classes believed they were specially fitted for this task. Anderson and Elkins both quote Barbara Castle’s observation that Lennox-Boyd was ‘imbued with the conviction that the British ruling class, both at home and overseas, could do no wrong.’ Many of those who witnessed the Kenyan atrocities, and deplored them, clung to this conviction. ‘I knew, I knew,’ an anguished Thomas Askwith confided to Elkins in 1997. ‘But how can I say it? . . . I just believed in our higher purpose . . . we had so much better to offer them. I thought our own bad hats would come around.’ They didn’t. Reporting from Kenya for the Daily Mirror, James Cameron saw among the settler community ‘the death of colonial liberalism, and the loss of the moral order that gave empire its only possible justification’. It seemed a terrible way to go. The Economist put it directly and succinctly in February 1959: ‘The one overriding consideration in treating any present-day colonial question must be what last memories of the British way of doing things are to be left behind before connections with Westminster are severed.’ It certainly ruled out any idea of upping and leaving – ‘scuttling’, it would have been called.

Britain’s broader colonial aim at this time was to transfer power to ‘moderate’ local leaders, which in Kenya meant defeating Mau Mau, an objective achieved, for the most part, by 1956, though no thanks to the repression, which was probably counter-productive. The revelation of the beatings at Hola finally tore away the government’s earlier papering over of its repressive behaviour – the evidence in the Hola case was just too glaring – and Iain McLeod, a new broom at the Colonial Office, made sure that there would be no more delays over African independence. There remained the haunting recollection of those dreadful Emergency years, but that was solved by Kenyatta’s reconciliation policy. Perhaps the most remarkable aspect of the whole affair is that the beleaguered British then opened their eyes, and the sunshine, the smell of the first rains and the taste of ripe mangoes came suddenly flooding back. Not only the horrors, but all memory of the horrors, were gone. It was like waking up from a nightmare. The stain on Britain’s imperial character was hidden from view – for the time being, at any rate. The myth of a ‘dignified’ decolonisation was able to endure. It was, Elkins writes, ‘a scenario that the British colonial government had fantasised about for years’. The Mau Mau did not get the recognition due to them (there is still no official memorial to them in Nairobi) and Britain never got the comeuppance it deserved. Half a century later, a ‘revisionist’ historian like Ferguson, seeking to rehabilitate the empire after a decent interval, could still blithely ignore the whole affair. This is no longer an option. Anderson and Elkins have seen to that.

fonte: London Review of Books

Mais comentários aos livros: John Lonsdale no Timesonline ; Robert Guest no TheTablet.co.uk


Britain’s Gulag: the brutal end of empire in Kenya by Caroline Elkins Posted by Hello

BRITAIN’S GULAG- The Brutal End of Empire in Kenya by Caroline Elkins

It is the scale of British brutality in Kenya that is the most startling revelation of this book. We always knew about the Mau Mau atrocities, of course. But for years the equally savage abuses by British officers and their African collaborators in the detention camps and controlled villages of Kenya were mostly hidden from people at home . . . It was a culture of routine beatings, starvation, killings and torture of the most grotesque kinds. Alsatian dogs were used to terrify prisoners and then ‘maul’ them. There are other similarities with Abu Ghraib: various indignities were devised using human faeces; men were forced to sodomise one another . . . ( fonte:London Review Bookshop)

-\\-

"In March 1953 a British policeman wrote a letter to his buddies back at Streatham police station bragging about the ’Gestapo stuff’ that was going on in his new posting in Nyeri. All this happened a few years after the war, so such analogies came quickly to mind. The critics - many of whom had fought against Nazi Germany - knew what they were talking about too. One relatively liberal police chief in Kenya claimed that conditions in the detention camps were far worse than those he had suffered as a Japanese POW. Comparisons were also made with the Soviet gulags, and, later on, by a former defence lawyer for the Mau Mau, with ’ethnic cleansing’. The accepted view of Britain’s decolonisation hitherto has been that it was done in a more dignified, enlightened and consensual way than by other countries - meaning, of course, France. It will be difficult now to argue this so glibly. Kenya was Britain’s Algeria." (...) (fonte:
selveandothers.org)

Coisas Lidas: Deixa-me partir

A protegida de Frankie, Maggie Fitzgerald, que vive em agonia numa cama de hospital, quer que ele ponha fim àquilo. Quer morrer como viveu: sem depender de ninguém. Quer ficar com o melhor das suas memórias. Frankie pergunta a um padre o que fazer e recebe a mesma resposta resignada de sempre: que deixe nas mãos de Deus. Frankie responde: «Não foi a Deus que ela pediu a ajuda. Foi a mim.»

Ramón Sampedro, tal como Maggie, é tetraplégico. Viveu 28 anos deitado numa cama. As memórias de uma vida foram-se perdendo e, de repente, para ver mar era preciso fechar os olhos. Como ela, quer ser ele a decidir a vida que não quer ter. Ramón pede ajuda ao Estado que lhe dá a mesma resposta burocrática de sempre: quem o ajudar será um criminoso.

Não se trata de saber se um tetraplégico pode ou não ser feliz. Não sou tetraplégico e sei muito pouco sobre a felicidade dos outros. Sei apenas que a nossa vida não é propriedade colectiva. Que só há liberdade quando somos, o mais que podermos, donos do nosso destino. E, acima de todas as liberdades na vida, a mais pessoal e indiscutível é a de decidir não viver. Quando a propriedade privada se transformou num valor tão sagrado que em nome dela todas as misérias são hoje toleráveis, a única propriedade que realmente conta, a da nossa vida, parece continuar a ser um bem colectivo.

“Million Dollar Baby” e “Mar Adentro” dizem-nos o mesmo: o mais incondicional dos amores é o que deixa o outro partir. E enquanto a Igreja e o Estado quiserem regular o amor só podemos esperar o pior.


Daniel Oliveira no Barnabé.

Também já fiz essa pergunta

Dois contra um
A substituição, no Quadratura do Círculo, de José Magalhães (que vai para o Governo) por Jorge Coelho mostra que se trata explicitamente de uma representação partidária. Volto portanto à minha pergunta de há meses: por que é que nesse programa a direita tem dois representantes e a esquerda somente um?


VM no Causa Nossa

9.3.05


Descansando os Olhos: Liberdade, Fernando Penim Redondo, Guiné,1969 Posted by Hello

Coisas Lidas

Há um gosto masoquista que atravessa a sociedade portuguesa e que muitas vezes é feito de pura ignorância. Considera-se que uma coisa não existe apenas porque se ignora que essa coisa existe. E vai daí temos uma rábula de indignação: parece impossível o estado a que isto chegou, somos sempre os mesmos, ora vejam só isto. Não significa que, por vezes, se não tenha razão. Mas noutras é um tique.

in
A Centopeia, por Eduardo Prado Coelho.


O professor Marcelo e a Ana Sousa Dias dispuseram-se frente a frente no estúdio. Ela, suposta entrevistadora, ele suposto entrevistado. Engano. Ele anuncia o menu e embrulha-se nas transmissões das óperas da RDP2. Ela corrige-lhe o calendário (...)

Que fazes tu Ana Sousa Dias no meio do acelerador de partículas? Estás tão calma e avisada nas conversas que escorregam para a madrugada a dois. Tão serena, tão certeira a conduzir o diálogo fora do estilo tem três segundos para contar a história da sua vida. Havia necessidade? Não havia. O cenário é bonito. A mesa, mais ou menos. As chávenas e os pires, sim. Se eu fosse a Ana Sousa Dias, pegava nas chávenas e nos pires, dava-lhe a entrada, tipo boa noite professor, já pode começar, e ia-me à vida. No domingo seguinte mais duas chávenas e dois pires, e assim sucessivamente até ter o serviço completo. Limpinho.

in
A Anita e o acelerador de partículas, por Álvaro Domingues.

8.3.05

Coisa Lidas, no designado "dia da mulher"

O Dia Internacional da Mulher celebra-se há 30 anos mas, segundo a ONU, neste período de tempo pouco mudou. Apesar da insistência em lembrar que as mulheres têm direitos iguais na sociedade e que não são o sexo fraco, as diferenças continua a ser vincadas.

Os maus-tratos físicos e psicológicos são um dos principais problemas com que as mulheres se deparam actualmente, mesmo nas sociedades ditas modernas.

Pelo menos assim indicam os números que dão conta de que uma em cada cinco mulheres na União Europeia é vítima de violência doméstica, a principal causa de morte e invalidez nas mulheres entre os 16 e os 44 anos na Europa.

A emancipação feminina já tem história mas a discriminação no mercado do trabalho é outro dos problemas enfrentados pelas mulheres.



Entretanto.....


As mulheres representam mais de metade dos desempregados da União Europeia, ocupam a maioria dos trabalhos precários e ganham menos do que os homens, revela um relatório polémico da eurodeputada comunista Ilda Figueiredo, que o Parlamento Europeu vota na próxima quarta-feira.
(...)

Estas diferenças chegam aos salários, sendo que a remuneração horária bruta das mulheres era, em 2001, na Europa a Quinze, 16 por cento inferior à dos homens, uma diferença que é mais significativa na Alemanha e Reino Unido.

"Há discriminações no acesso das mulheres a um emprego de qualidade e em muitos países são insuficientes os serviços de apoio à família, designadamente para a guarda de crianças, de forma a ser possível conciliar vida familiar e profissional", refere no relatório.

O diagnóstico crítico da situação social na Europa – que inclui o emprego, exclusão social e pobreza, falta de oportunidades de formação e discriminação entre homens e mulheres – e as medidas preconizadas não agradaram aos eurodeputados da ala direita do Parlamento Europeu, tendo o relatório sido aprovado por escassa margem (22 votos a favor e 17 contra) na Comissão do Emprego e dos Assuntos Sociais.

Contudo, Ilda Figueiredo defende que os grupos socialmente desfavorecidos – como as mulheres, imigrantes e pessoas que vivem abaixo do limiar da pobreza – devem constituir os beneficiários privilegiados da formação ao longo da vida.

Sugere ainda a criação de um Pacto de Desenvolvimento e Emprego que dê prioridade ao crescimento de empregos de qualidade, que passe por uma segurança social pública e universal e pela redução do horário de trabalho sem perda de salários, objectivos que devem presidir à nova agenda da Política Social 2006-2010 da UE.

(....)
Ilda Figueiredo quer ainda medidas que condicionem as fusões de empresas e a deslocalização de multinacionais, apoiem as pequenas e médias empresas e conciliem o trabalho com a vida familiar.



Comentário que não é Abre-Surdo: Bem podes sonhar, Ilda. Só que entre a "realidade" e o "sonho" há toda uma "cosmética" .O relatório provavelmente nem vai ser aprovado.

ndengeocello....


....em swahili significa "livre como um pássaro".


Da esquerda para a direita

Olivier Lake (alto), Peck Allmond( trompete), Michael Cain (piano & fender rhodes), Ron Blake (saxophone ténor), Meshell Ndegeocello (baixo eléctrico), Chris Dave( bateria), DJ Jahi Sundance (turntables)

Spirit Music Sextet featuring Meshell Ndengeocello

No início dos anos 90, em Nova Iorque Meshell Ndengeocello deslocou-se uma noite à Knitting Factory e abordou Steve Coleman: “ Eu conheço todas as linhas de baixo das tuas músicas. Toma, é uma cassete do meu primeiro álbum que deve sair no próximo ano”

Em 1992 Steve Coleman incluía a jovem baixista no seu álbum “Drop Kick” , fazendo-a participar em 3 temas (Drop Kick, Dread Drop et Z Train).

Entretanto vários anos passaram e Meshell Ndengeocello – compondo, cantando tocando sintetizadores e baixo e produzindo num permanente “flirt” com o Jazz, o Hip-Hop e o Funk – tornou-se mais ou menos um ícone da chamada “Nu Soul”. Produziu bons e importantes álbuns como “THE ANTROPOLOGICAL MIXTAPE" (2002) onde participaram nomes de peso do Jazz e da Soul como Joshua Redman, Bennie Maupin, David Fiuczynski, Geri Allen, Michael Cain, Billy Preston, Marcus Miller, Abe Laboriel, Jr, Luis Conte e Lalah Hathaway.

Se em todos os seus anteriores trabalhos Meshell não se coibiu de espreitar pela porta do Jazz, agora tem estado a envolvida desde meio de 2004 num álbum e na apresentação de um novo grupo montado e dirigido por si - O “Spirit Music Sextet” - que é, este sim, indesmentivelmente um grupo de Jazz. Jazz eléctrico, mas Jazz. (algures entre o Miles de Bitches Brew, Steve Coleman e um pouco de Erik Truffazz.)

O grupo é constituído por: Chris Dave (bateria), Ron Blake (flauta, saxofones tenor e soprano), Oliver Lake (Saxofone alto), Peck Allmond (trompete, tuba e kalimba), Michael Cain (piano), DJ Jahi Sundance (pratos)


Pude hoje assistir no Mezzo aos últimos 20 min do concerto dado pelo Spirit Music Sextet feat. Meshell Ndengeocello no New Morning em Paris em Julho do ano passado. Gostei do que ouvi: extensa improvisação, atitude e espírito de busca, fuga quase obcessiva as "zonas de conforto" e padrões ritmicos pouco habituais em parmanente variação.Pena é que não possamos ter visto a presença de David Fiuczynski (guitarra) e Steve Coleman (saxofone alto) que desde Fevereiro deste ano têm sido convidados especiais de Meshell e do Spirit Music Sextet (que, ao que parece agora se chama Spirit Music Jamia).

Quem quiser pode ver a retransmissão do concerto a que me refiro nos dias 11 as 22H; •13 as 00H30; e 16 as 22H.


Entretanto o álbum saiu em fevereiro, chama-se "Dance of the Infidel" e conta com as participações vocais de Cassandra Wilson e Lalah Hathaway


Meshell Ndegeocello est certainement une des artistes afro-américaines actuelles dont l’expression artistique est des plus inventives. Depuis un peu plus d’une dizaine d’années, elle surprend par son parcours musical en perpétuelle créativité entre soul, jazz et hip hop. Autodidacte, elle s’affirme à la basse, la guitare et les synthés dans les gogos clubs de Washington. Les concerts qui suivent la sortie de « Cookie » en 2002 nous apportent une manière originale de construire les chansons. Avec douceur, elles émergent de plus en plus elliptiques d’un monde chaleureux et funk. Il était alors normal que Meshell Ndegeocello glisse tranquillement vers l’expérience purement instrumentale. Avec le « Spirit sextet », elle développe une musique instrumentale quasi envoûtante. Un mix réussi entre groove, soul music et qualité jazz déploie une dynamique musicale d’improvisation captivante. De toutes parts de l’orchestre fusent les propositions, brillant chatoiement de couleurs musicales. Afin de nous combler Meshell Ndegeocello s’est adjoint deux invités exceptionnels : David Fiuczynski et le saxophoniste Steve Coleman.

fonte


Née à Berlin, en Allemagne et élevée à Washington, Michelle Johnson alias Meshell a adopté le nom de "NdegéOcello", qui signifie « libre comme l'oiseau » en swahili. Elle a appris seule la basse, la guitare, le synthé et la batterie. Très vite courtisée par plusieurs labels, dont Paisley Park de Prince, elle fut la première artiste féminine à signer chez Maverick Records, le label de Madonna, en 1993. Elle sort alors son album « Plantation Lullabies ». Dix ans et cinq albums plus tard, cette admiratrice de Prince, qui ne mâche pas ses mots, a réussi la synthèse de la soul music, du hip-hop (dans sa forme la plus poétique), du jazz, du folk et d’une pop music funky synthétisante. Elle est la première femme a avoir été élue « Bassiste de l'année » par le magazine Bass Player Magazine


fonte

7.3.05

A culpa é de todos menos minha

Anteontem à noite numa reunião do conselho nacional do CDS/PP onde Portas analisou os resultados:

Paulo Portas responsabiliza o partido de Manuel Monteiro (Partido da Nova Democracia, PND) e o seu "efeito de dissidência" por ter perdido dois deputados, um em Aveiro e outro no Porto. Se o CDS/PP não tivesse perdido esses dois deputado teria mantido o resultado obtido nas legislativas de 2002, 14 deputados.

O discurso do líder democrata-cristão no conselho nacional começou, precisamente, por uma análise das razões dos 7,3 por cento conseguidos nas eleições de 20 de Fevereiro:

-as eleições foram feitas em contraciclo e, portanto, na melhor altura para a oposição e pior para a coligação governamental;

-que há uma diferença entre o que o país precisa de fazer e o que o país está disposto a fazer;

- que houve algum efeito do apoio de Freitas à maioria absoluta do PS;

-que o discurso de alerta feito por CDS e PSD sobre eventuais alianças entre PS e Bloco de Esquerda acabou por levar uma parte do eleitorado de centro e mesmo centro-direita a votar nos socialistas;

-e que o CDS foi vítima de uma forte hostilidade cultural sem ter instrumentos de contracultura. Por isso, deixou também o aviso para o futuro: para além de ter de fazer uma oposição dura e inteligente ao governo, o CDS terá de fazer o que chamou de "combate de cultura" ao PCP e ao Bloco de Esquerda.


Carta Abre-Surda:

Caro presidente, Dr.Paulo Portas,
Inspirado pela sua sóbria identificação das causas do nosso resultado eleitoral e como prova da minha admiração deixo-lhe, humildemente, as seguintes sugestões e alguns comentários da minha própria lavra:

1.Envie-se imediatamente a fotografia de Manuel Monteiro para a sede do PND,

2.Tem razão quanto a diferença que há sobre o que o País precisa e o que está disposto a fazer. Esse povo preguiçoso não está disposto a sacrifícios, nem percebe a dimensão da honra de ter um um homem brilhante, um visionário como o senhor a liderá-los. São uns obtusos. A solução que proponho é simples: Mudar de povo já que este povo não o merece.

Talvez se possa pedir ao seu amigo, o senhor Donald Rumsfeld, uma troca: 6 milhões de Portugueses por 6 milhões de Americanos. Que tal? Para nós seria bom e para eles, que são tantos, nem se notava a diferença. (Escusa de lhe dizer que a ideia foi minha).

3.Quanto a Freitas, fez bem em mandar a sua fotografia pro largo do Rato. Mas não basta. Esse Freitas é um vermelhusco perigossísimo, já andou em manifestações da esquerda radical trotkysta e até chegou ao cúmulo de apresentar um livro de um líder maoista, cujo o nome não escrevo com medo que me provoque parkinsonismo. Assim sendo está-se mesmo a ver que se ele, o Freitas, se apanha com uma nesga de oportunidade ( que não vai faltar) poderá levar a cabo uma manobra terrorista radical contra algum dos veneráveis homens da Administração ( consigo mesmo visualiza-lo, fingindo-se distraído, a entornar uma chávena cheia de café nas calças do nosso grande líder mundial, o sr.George W. Bush). A fim de prevenir esse eminente desastre, que poder ter um efeito pernicioso irreversível para as relações de Portugal com os EUA, é fundamental contactar a sra.Condoleeza Rice, o sr.Rumsfeld, a CIA, oFBI e se possível o Arnold Schwarzenneger.

4. Sobre as causas da maioria absoluta do PS: Infelizmente, e apesar de muito nos termos rido na altura, aquela nossa invençãode que o PS se iria aliar ao BE, teve um efeito perverso. Deviamos era ter dito que o PS se iria aliar ao PSD. Se o tivessemos dito, aposto que a populaça temendo pelas malfeitorias que a dupla Menino-Guerreiro e Cyber-Engenheiro poderia perpetrar, correria a pedir que lhes salvassemos. Ah, como teria sido bom. Fica pra próxima.

5.Finalmente, penso que o CDS não poder continuar a ser vítima de tanta hostilidade cultural. Temos que começar por arranjar comentadores isentos que defendam apenas a verdade ( sabemos que a verdade é coincidente com a nossa opinião). É urgente contrariar a hegemonia na comunicação social de vozes da esquerda radical como Luis Delgado, José Manuel Fernandes, Pedro Mexia, Constança Cunha e Sá, Marcelo Rebelo de Sousa e Maria João Avillez, que só sabem elogiar o PCP e o BE. No campo das letras temos também que arranjar urgentemente versões de direita dos teimosos esquerdistas Vasco Graça Moura e a Agustina. Finalmente, no campo da música acho mais díficil encontrar por cá alguém que sirva ao mesmo tempo os nossos interesses e os nossos requintados gostos. Talvez seja mais fácil solicitar à secretária do nosso grande líder mundial, o sr. George W. Bush ( não perco uma oportunidade de escrever este nome) que nos faculte o número de telefone daquela menina, a Britney Spears, decerto ela estará disponível para dar a cara ( pelos menos a cara) por nós, como deu pelo nosso grande líder mundial, o sr. George W. Bush ( desculpe o meu exagero, mas não consigo conter-me)

Sem outro assunto de momento.
Força, estou consigo.

o seu,
Astragildo António Telmo Melo Correia de Ribeiro e Lima.

PS- Dê, por mim, um forte abraço ao meu amigo Telmo Correia ( vai ser ele, não vai?). Estou com ele também, Força. ( Já me estou a ver a gritar "Viva! viva o CDS/TC!, viva o CDS/TC!!")

6.3.05

I


untitled, Doris Haron Kasco ( in Les Fous d´Abidjan, 1993)

I

Now here’s some strings, magic man

Turn some voodoo if you can
Do you know a spell
That’s worth repeating
And trace your pictures in the sand
And tell me can you work a mojo hand
And can you start
The drums of kuru beating

And beware of the south wind
Pardon my bad mouth wind
And search the sacred signs
For a solution

( Terry Callier, Alley-Wind Song)

II


Daloa, Doris Haron Kasco, (in Les Fous d´Abidjan,1993)

II

And tell me now is it true
If I put faith in you
Will you lead me to
The bridge of bright tomorrows
And will you grace see me trough
Will incense and candles do
Will prayer remove me
From the reach of sorrow

Beware of the north wind
A king of worlds comes forth wind
To blow upon the land
In retribution

( Terry Callier, Alley- Wind Song)

III


untitled, Doris Haron Kasco, ( in Les Fous d´Abidjan, 1993)

III

And here in the land of the free
Where the huddled masse flee
From the cold and cruel shores
Of war’s dominion
But oh say that dusky mirror I can see
Now don’t you know it kind of holds back
On my jubilee
And freedom´’s just a matter of opinion

Now beware of the west wind
A bitter black suppressed wind
To lead your children home
For revolution

( Terry Callier, Alley-Wind Song)

IV


untitled, Dorris Haron Kasco,( in Le Fous d´Abidjan,1993)

IV

Hey, listening once if we sing
Will that make you do your thing?
Will the chanting reach you
High and lofty places?
Brother, what’s is this
Strange gift you bring?
With this poor man like a diamond ring
Will that bright light reveal
The prince of faces

Now beware of the eastwind
The god of man and beast wind
A famine and/or feast wind
His last but not the least wind

His stole a thread of golden fleece wind
Yes, he’ll find a great release wind
It is blowing all across this land
Blowing all across this land
And where you gonna stand?
Tell me brother,
Where you gonna stand?

( Terry Callier, alley-wind song)


untitled, Doris Haron Kasco, Côte d´Ivoire

Les Fous d´Abidjan

The madmen of Abidjan, photographed by the young talented Dorris Haron Kasco, from Ivory Coast, are the witnesses of a reality deny, of a collective blindness maintained to reject, in the common places of urban life, bridges, streets, corners, their night silhouettes.

Though they exist, are free to wonder, here is the proof of a traditional tolerance, an understanding proximity to their habits, a singular sympathy of African societies towards their loveless nudity, their obscure words, their restless bodies.

Dorris H. Kasco was born in Daloa, Ivory Coast in 1966. His exhibition « Ils sont fous, on s'en fout » (they're mad we don't care) presented in Abidjan, October 1993 is the result of three years of work, inaugurating a research on the African city and its unwanted people. fonte


Dream Forest, Louise Franco, 1998 Posted by Hello

Exigências de Uma Certa Forma de Olhar

Numa densa floresta, à sombra das suas árvores frondosas e da humidade que ela proporciona, crescerão musgos, fetos, muitos fungos (entre os quais alguns cogumelos perigosamente venenosos), muitas ervas daninhas e outras até mais altas mas não menos rasteiras. Será então que deixamos de estar diante de uma floresta? Será que a sua contemplação já não impõe o mesmo respeito? Será que por plantas trepadeiras treparem pelas gigantescas árvores acima, estas últimas perdem a sua nobreza e quiçá passam a merecer que sejam cortadas para servir de lenha? A resposta parece evidente.

Ao contrário, muitas vezes, diante do mais agreste deserto, temos tendência para salientar a beleza de qualquer arbusto ou de qualquer Welwitschia Mirabilis.

Os microscópios são certamente instrumentos úteis, mas não será um pouco inútil ir à procura de vírus, bactérias e fungos na epiderme que cobre as mãos de um pianista, no exacto momento em que ele toca uma sonata?

Como dizia um poeta tropicalista: “De perto ninguém é normal”

Alguns amigos têm mostrado ultimamente alguma preocupação em procurar e encontrar os “defeitos”, ”as corrupções” “as arrogâncias” da chamada “esquerda”. Esta atitude cria muitas vezes a dúvida e a polémica nos taxionomistas apressados que por aí andam. Uns não hesitam em classificar esses amigos como sendo de “direita”. Outros parecem perceber nesta busca uma pretensão de “puritanismo”, de “superioridade moral” típica da "extrema-esquerda".

A extrema-esquerda nunca se quer “misturar”, esforçando-se por mostra-lo e apontando o dedo a todos os que dizendo-se de esquerda caiam em “modas”. São estes que estão à espera que toda a esquerda seja o cúmulo da virtude, da honestidade intelectual suprema, que se comporte com o máximo pudor e que nunca caia no modus operandi de alguma direita. Dá a impressão que para eles todos os que não estão à altura do tal homem-novo não são dignos de estar do lado de cá e por isso têm de ser identificados e extirpados.

Eu não acredito no homem-novo. Os homens que temos agora são estes e é com estes que temos de lutar e cooperar e trabalhar. Não entremos em canonizações de esquerda. Os homens de esquerda têm tantos defeitos e fraquezas como qualquer um outro. E portanto não é de espantar que o modus operandi (populismo, demagogia, mediatismo, verbo fácil) de alguma esquerda seja muito semelhante ao de alguma direita. Porque- nunca é de mais dizer- não há só uma esquerda, assim como não há só uma direita. Além do mais, sinceramente, não acho que haja a priori uma superioridade moral da esquerda. E por isso é natural que se encontrem tantas “ervas daninhas” na esquerda, como se encontram na “direita”. Então porquê apontar somente o dedo às ervas canhotas?

Termino com uma tirada de Camus aquando de uma sua exposição feita num convento de dominicanos em 1948:

“Estou convencido que o cristão tem muitas obrigações, mas não compete ao que as rejeita lembrar a existência dessas mesmas obrigações aquele que as reconhece. Se há alguém que possa exigir alguma coisa a um cristão, será o próprio cristão. Se eu, no final desta exposição, me permitisse reivindicar de vós quaisquer deveres, seriam tão-somente aqueles que é necessário exigir a todo o homem de hoje, seja ele ou não cristão”

E assim, à maneira de Camus, espero que aqueles que são rigorosos e exigentes, mas justos, exijam dos “homens de esquerda” apenas e exactamente o mesmo que exigem de qualquer outro homem de hoje.

Pedro Santana Lopes: Coragem de Fazer....

Nomeações. Será por amor a Portugal?

Às vezes chateia

Esta diferença na maneira como o PCP e o BE são tratados pela comunicação sócial. O PCP é nitidamente discriminado. O exemplo que se segue é bem ilustrativo. Atente-se no título:

Bloco quer comissão na AR para rever código laboral

Agora repare-se no contéudo (basta o primeiro paragráfo):

CGTP reuniu-se ontem com o BE e com o PCP para articular convergências sobre a exigência de revogação do Código do Trabalho. O PCP quer a revogação. O Bloco de Esquerda (BE) quer a criação de uma comissão parlamentar que proceda à revisão de "matérias decisivas". O secretário-geral da CGTP-Intersindical, Carvalho da Silva, reuniu-se ontem, em encontros separados, com os comunistas e com os bloquistas, com vista a enumerar "temas que precisam de ser introduzidos na agenda política", explicou o líder sindical. As conversas, solicitadas pela CGTP, atentaram no Código do Trabalho, tendo o encontro com o PCP sido igualmente em torno do acesso à justiça e das valorização do aparelho produtivo nacional e dos salários.

Ou seja, os "sujeitos da notícia" são a CGTP, o PCP e o BE. A iniciativa até foi da CGTP, mas foi Bloco (e a sua proposta) quem mereceu a parangona.

Cada Barreiro sua Cascais, por José Neves

nota:
Não sei se é uma questão de preguiça, falta de capacidade ou simplesmente de fazer publicidade gratuíta, mas acho estranho como figuras como Pacheco Pereira e José Manuel Fernandes - por muitos consideradas como inteligências cá do burgo - insistam no que toca ao BE em limitar as suas críticas a questão da forma. Não se trata de analisar propostas nem conteudo político. Da alto da sua ciência, acham que nem sequer vale a pena pois "toda gente" já sabe que tipo de propostas emanam da "esquerda radical". E é assim que os seus ataques resumem-se mais ou menos a isto: Louçã é um trotkysta; Outros lideres do bloco não se redimiram dos seus "passados matizados de vário tons de vermelho"; O bloco é mediático e os média protegem o bloco; Quem vota no bloco são os jovens que gostam de questões fracturantes, mas que nada sabem do passado dos líderes do Bloco, nem da história do século vinte; Quem vota no Bloco são as elites porque o bloco é a "esquerda dos finos". Já aqui tinha- ainda que de forma intempestiva - deixado o meu repudio pela arrogância argumentativa dessa versão de Pacheco Pereira em formato Sancho Pança que é José Manuel Fernandes. Agora, desmontando argumento por argumento está um texto com muito mais verve, publicado por José Neves no Público. (Sacha)

Aqui segue o texto ( Quem não tiver tempo ou paciência de o ler todo, que leia ao menos o ponto 5 e o 6)

Algumas das análises para o sentido do meu voto têm-me convidado a acreditar na minha leviandade social e na minha falta de cultura política. Perante os analistas que em tais termos me convidam sou tentado a concluir que eles são maus psicanalistas. E, todavia, o conhecimento e a inteligência por demais evidentes em alguns desses analistas impedem-me de cair na tentação. Tomo então as posições desses analistas em relação ao BE não propriamente enquanto análise, mas mais como contestação do Bloco. Em lugar de me indignar com essa legítima contestação, talvez que prefira compreender a razão das teses que sustentam essa contestação.

1) Gato escondido com o rabo de fora. Esta tese diz-nos que por detrás de um Bloco que se apresenta como uma novidade estarão os perigosos revolucionários de sempre. Pacheco Pereira e José Manuel Fernandes (J.M.F.), nomeadamente, denunciam Francisco Louçã por ser um herdeiro do trotskismo. O facto é efectivamente verdadeiro e Louçã nunca o escondeu. O que, a meu ver, não implica que ele tenha que se referir às hipóteses revolucionárias na China nos anos 20 para propor políticas de combate ao desemprego em Portugal. Atrás do novo Louçã de hoje estará em parte o velho Louçã de sempre - eis um facto que não chega para uma denúncia nem para uma acusação. E mesmo se Louçã guardasse esqueletos no seu armário político - se tivesse apoiado a Albânia ou o Camboja - ele ainda teria todo o direito à cidade, tal como têm J.M.F. ou Pacheco Pereira.

2) O efeito pernicioso desta tese é a redução da experiência política do BE a uma mera artimanha - ele não seria mais do que a "soma das partes", uma sigla ao serviço de velhas siglas. Ora, é esta ideia que desde logo impede que os nossos analistas juntem novas análises à sua contestação. Eles não chegam a encarar o BE como uma realidade com uma história própria ainda que curta; antes fazem dele o novo rosto do "Demónio Vermelho". Perdem assim a oportunidade de, pensando sobre a breve história do BE, juntarem mais argumentos à sua própria contestação. Mantendo viva uma polémica com argumentos da guerra fria, eles sintetizam com originalidade o antitrotskismo estalinista e o anticomunismo liberal.

3) O BE como produção mediática por excelência. Nesta tese, a incapacidade dos nossos analistas em explicar uma certa afinidade entre o BE e a comunicação social leva-os a sugerir essa relação em termos de teoria da conspiração. A mim parece claro que a simpatia de alguns jornalistas em relação ao BE marcou o crescimento inicial deste. Mas, por si só, ela não o explica. Aquela simpatia inicial não chega para fazer uma tese e muito menos uma teoria da conspiração. Ela não se compara à simpatia de que em regra beneficiam PS ou PSD. A este nível, parece-me sim plausível sugerir diferenças favoráveis ao BE em comparação com o PCP. Será contudo precipitado reduzir a capacidade mediática do BE ao "complexo de esquerda" dos "media" que Pacheco Pereira refere. Mantendo-nos por aspectos politicamente superficiais é hoje em dia bem mais evidente, desde logo, o encontro entre o tipo de retórica de Louçã e as gramáticas comunicacionais dominantes. Como, em geral, parece também claro que entre a "estética" do BE e as "estéticas" da comunicação social existem várias zonas de contacto. Isto não se explica por "cedências" do BE: por exemplo, onde este claramente cedeu - a personalização hierárquica da campanha num líder -, já o PCP há muito tinha cedido sem que tal resolvesse o seu divórcio com os "media". Em suma, creio que será sempre ridículo reduzir a questão à "forma" como são ditas as coisas, pois faz toda a diferença aquilo que é dito. É por exemplo evidente que a clareza da posição do BE face ao aborto ou face à guerra lhe garantiu algum protagonismo face a um PS que se contradisse em relação a ambas as questões.

As teorias da conspiração e os seus processos de intenção são pouco mais do que mistificações. J.M.F. - vezes sem conta primitivamente acusado de ser a "voz do dono" - e Pacheco Pereira - reduzido a "inimigo interno" do seu próprio partido - sabem-no melhor do que muitos.

4) O voto politicamente inculto. Avançada sobretudo na última campanha, esta tese assenta sobre a invenção de um conceito universal de "cultura política". Ela é arrogante não por defender que não se vote no BE, mas por argumentar em termos de autoridade: começando por destituir de qualquer racionalidade as razões políticas do voto no BE, ela acaba o debate antes de o começar. A tese é fraca a menos que se entenda que qualquer definição formal de "cultura política" depende estritamente dos conteúdos particulares da "cultura política" dos analistas que contestam o BE.

5) O voto elitista. Eis a tese mais criticável. Apetece caricaturá-la e dizer que, com os presentes resultados eleitorais, esta tese seria sustentável apenas deslocando a marina de Cascais para pleno Tejo, até à beira do Barreiro, onde o BE teve uma enorme votação. A tese diz que só vota no BE quem é rico e quem não tem problemas na vida. Mais do que relativizar a tese, interessa-nos atacar um pressuposto da mesma, o que concebe as questões de "moral" como assunto exclusivo de ricos e das suas "burguesias". O "povo", esse, será inconsciente e amoral. Porque sobrevive estupidificado pelas suas necessidades materiais de subsistência, ele não se preocupa com as "questões pós-materiais" e "pós-modernas" da agenda do BE.

Deixando de lado ícones bloquistas tão "materiais" e "modernos" como o desemprego e a guerra, peguemos então nos "pós-materiais": aborto, feminismo, homossexuais e droga. Sem sofisticar a análise, podemos ver como estas questões são profundamente "materiais" e imanentes à vida do "povo": A gravidez indesejada bate à porta de todas as casas; a violência doméstica chega tanto a operárias quanto a burguesas; a repressão da homossexualidade é pelo menos tão sentida na fábrica como na universidade; e a toxicodependência não respeita as fronteiras de classe.
A tese do "voto elitista" é ela sim elitista, porque a ela subjaze uma concepção de certos problemas como preocupações próprias de uma imaginada intimidade burguesa. Não por acaso, essa concepção alimenta tanto o pior da tradição marxista-leninista como o mais cínico conservadorismo. Em ambos os casos, a concepção limita os sentidos da qualidade de vida e os seus ícones "pós-materiais", no tempo de hoje, a uns poucos privilegiados. Em ambos os casos, o direito de todos ao sentido da qualidade de vida é apenas prometido para o tempo dos amanhãs que cantam. Como se a questão fosse "mais" e não "melhor".

6) A resposta de Bertolucci. Foi precisamente contra esta privatização do direito de todos à espiritualidade pessoal que Bertolucci um dia filmou um funcionário comunista em profunda depressão por causa de uma desilusão amorosa. Na cena seguinte, o funcionário pede ao seu superior que lhe explique como era possível que ele tivesse perdido a vontade de fazer o seu trabalho político apenas por razão de uma depressão amorosa. Este, um velho comunista romântico, disse-lhe que ele há muito deveria ter percebido que as "coisas do espírito" são sempre "coisas da matéria": "O amor não é uma superestrutura." Estou certo de que não foi por amor que tanta gente votou no BE. Mas também não foi por falta de cultura política.