30.6.04

Ouvir Sampaio

A Selecção lá ganhou mais uma vez. Estou contente, mas confesso que não consegui vibrar tanto neste jogo como vibrei contra a Espanha e a contra a Inglaterra. Nesses jogos, mesmo consciente que o futebol me estava me estava a ser injectado em doses maciças, deixei-me inebriar pelo “entusiasmo genuíno”.

Este jogo contra a Holanda não foi tão dramático e também não consegui abstrair-me do problema, da crise do momento. Ela, a sensação de ultraje eminente, esta sempre presente como um mosquito solitário que, no quarto as escuras, insiste com o seu zunido e sua picada, em não nos deixar dormir.

No final do jogo ouvi Sampaio falar para a televisão. Não disse mais do que algumas palavras de circunstância que cito de cor: “Os portugueses estavam a precisar de algo que os entusiasmasse, depois dos problemas que têm tido de enfrentar nos últimos anos. Tem sido fantástica a mobilização das pessoas pela selecção, agora é bom que se mobilizem também para outras coisas mais sérias”. Não tanto pelo que disse, mas pela maneira finalmente mais emotiva como falou, deixa-me acreditar que afinal Sampaio sempre vai convocar eleições. Pode ser que me engane, mas depois de o ouvir fiquei mais tranquilo. Afinal, para ouvir 20 segundos de Sampaio, valeu a pena ter visto um jogo que vi quase só por obrigação patriótica (?). Para ouvir Sampaio e para ver o golo do Maniche, claro. Pelo menos hoje, desconfio que não haverá mosquitos.



29.6.04


Será que não passamos todos de quixotes lutando contra moinhos de vento? Posted by Hello

27.6.04


in BlogdeEsquerda Posted by Hello

Humor Abre-surdo(rir para não chorar): alguém se lembrou?

O presidente Sampaio é um homem simpático com algumas tiradas muito engraçadas. Primeiro foi aquela, que será para mim um eterno hit, de que “em Portugal as pessoas comportam-se perante as leis como se elas fossem sugestões” agora interroga-se, numa intervenção digna de registo “se alguém se lembrou entretanto que o regime constitucional português consagra a figura do Presidente da República como quem tem de analisar a situação em termos de substância”

Pois está claro que ninguém se lembrou: ninguém se lembra que Portugal tem presidente, que este foi eleito por consulta popular e tampouco que o regime constitucional diz que é ele quem tem que analisar determinadas situações e ,pasme-se, tomar decisões. O que há são sugestões: Sugere-se que haja um presidente, e que ele, se lhe apetecer é claro, analise a situação e então, mas só mesmo se estiver com muita vontade, tome decisões, mas, sugere-se, uma de cada vez, para não se cansar.

26.6.04

Humor Abre-Surdo (rir para não chorar): Via SMS

O jornal “O Público” noticia que há um sms anónimo a correr pelos telemóveis dos portugueses a solicitar que compareçam numa manifestação contra Santana Lopes como Primeiro-Ministro; Pacheco Pereira avisa, no seu Blog Abrupto, que alguém há de agradecer porque os efeitos serão exactamente os contrários aos pretendidos. Pois bem, agora é Santana Lopes que, ao estilo de Scolari, convoca todos os portugueses para se candidatarem a algum cargo governativo, enviando os seus currículos para o seu Email. O ainda Presidente da câmara de Lisboa pensa assim poder encontrar alguém disponível para ser ministro ou secretário de estado no seu governo. Sabe-se que Avelino Ferreira Torres já telefonou a Santana disponibilizando-se para a pasta da Administração Interna, ao que Santana refutou dizendo que esse cargo já estava atribuído a Tino de Rãns, mas que lhe oferecia de bom grado a pasta de Ministro da Justiça. Avelino ficou de pensar.

O despudor é tão grande e a diferença tão nítida

Nunca simpatizei particularmente com a figura de Guterres. Sempre me pareceu, que o homem tinha mais de humanista cristão ou cristão democrata (Não. Não me estou a referir ao CDS) do que de socialista. Mas quando olhamos para os últimos 2 anos em que, governados por um governo tão durão com o povo mas com portas abertas para.... ..... (enfim é melhor não ir por ai, se não ainda me confundem e põem a tocar o cd que canta as piadas sobre as cassetes comunistas) e agora chegamos a este momento em que, ao que parece, temos de rezar para Sant’ana para não virmos a ser governados por Santana, o Pedro, lembramo-nos do velho ditado: bom de mim fará quem atrás de mim vier.

O despudor desta gente é enorme:
Dizem que é uma honra para Portugal ter um português a ocupar cargo de tamanha importância. Sim, de facto é uma honra, uma honra dada pelos países grandes da Europa, a um português que é durão em Portugal, mas macio e maleável lá fora, para que este sirva, uma vez mais, os seus interesses. Na realidade, Barroso não é a primeira escolha. É o consenso a que se conseguiu chegar.

Os 3 principais países da Europa querem Durão porque os outros 22 (Portugal incluído) não sabem bem quem é Durão. Barroso viverá assim no corpo da Europa, como uma espécie de microorganismo comensal e protector: ou seja não provoca mal, nem directamente porque não tem patogenicidade intrínseca, nem indirectamente, porque não tem capacidade de provocar anticorpos (só mesmo os portugueses é que têm alergia a Durão). O futuro ocupante do “cargo” é de tal forma inofensivo que até a ousadia da cimeira dos Açores já foi esquecida. Durão será assim usado para impedir a proliferação de outros microorganismos mais perigosos: os Países que reivindicam e avançam iniciativas e propõem alterações ao que está mal. Se preferirem uma metáfora mais simples e directa, mas pouco original: Durão será o mordomo da mansão europeia.

Argumentam, os despudorados, que ser um português a ocupar “o cargo” trará benefícios para Portugal. Mas sinceramente alguém acredita nisto? Que benefícios? E em relação a quem? Portugal saíra beneficiado em relação a Inglaterra, França, Alemanha e Espanha? ou será em relação a República Checa, a Eslováquia, a Estónia e a Lituânia? Acham que a Itália beneficiou tendo o Sr. Prodi como presidente da comissão? O único benefício para Portugal é um ténue reforço da sua frágil auto-imagem lusitana. O triste é que os que argumentam sobre os tais benefícios, são os mesmos que defendem a Europa construída a 25 vozes em que todas devem cantar ao mesmo volume. Agora já querem um pouco mais de “pré-amplificação” não é? Hipócritas. É o que vocês são.

E eu que até nem gostava do Guterres tenho que dizer que diferença é nítida:

1º Guterres também teve a oportunidade de ser presidente da comissão europeia (aposto que já ninguém se lembra), mas recusou porque tinha um mandato e um programa de governo a cumprir. Já o “homem da tanga”, que até há bem pouco tempo dizia que vinha para salvar o pais do deficit, para pôr ordem nas contas públicas, para baixar os impostos, para acabar com as listas de espera, para fazer a justiça a funcionar, para criar cientistas que possam um dia ganhar prémios Nobel, e para construir um grande e novo aeroporto, logo que deixasse de haver criancinhas a passar fome em Portugal, já o homem da tanga, dizia eu, vai-se porque numa manhã em que se olhava ao espelho e apertava o nó da gravata verde e vermelha com o qual iria ao estádio da luz gritar “Força Portugal” pensou para consigo “ oh Zé, com essa elegância toda, você parece mais presidente da comissão europeia do que primeiro-ministro de Portugal!”

2º Guterres, dizem eles, fugiu. Na realidade, sentiu que os resultados das eleições autárquicas eram uma moção de censura dos portugueses ao governo e a ele em particular, por isso demitiu-se recomendando ao presidente que convocasse eleições antecipadas. Ora parece-me, mas se calhar sonhei, que os resultados das últimas eleições europeias, foram sobretudo uma moção de desconfiança ao governo da força. Mas como é o Darth Vader da coligação que vai para fora, então não está a fugir, está a conquistar. Eis o que pensa Durão: “Eu sou o maior! Vou conseguir ser presidente da comissão europeia, meto o Pedro como primeiro-ministro e o Prof. como presidente da república. O céu é o limite e eu estou a chegar lá”. Infelizmente para os portugueses se Santana Lopes for primeiro-ministro será o chão o limite.

PS – Dizia-se que Durão estava refém de Portas, afinal é Sampaio que tem estado refém de Durão: Não hesitou em convocar eleições quando Guterres se demitiu e agora cede a chantagens: “Vou para Bruxelas prestigiar Portugal mas tu tens que criar as condições”. “Sim senhor. Vá ser durão lá fora, se faz favor”.


Sacha Joffre