No Domingo pude assistir a Ed Motta, no Centro Cultural Olga Cadaval em Sintra, dentro do programa do Cool Jazz Fest e foi, resumindo numa palavra, excelente. Só faltou talvez um grupo mais desprendido para ser perfeito.Eis assim a oportunidade para falar um pouco de Ed Motta
Além de ser um hábil compositor em que o arranjo sai já, percebe-se, directo e de tocar muito aceitavelmente piano, (neste caso usou um Wurlitzer - o famoso piano eléctrico do anos 70) e guitarra, Ed é ainda um extraordinário improvisador de Voz (e reparem que não lhe chamo cantor) com dotes talvez só comparáveis a Bobby Mcferrin e Maria João.
Para ouvidos que misturem preconceito com ingenuidade, poderá parecer que Ed Motta é pop. Puro engano, a despeito do seu último disco se chamar “Poptical”. Ed nutre-se de toda a música pop negra do passado: Soul dos anos 60, Funk dos 70, os primórdios do Disco dos anos 80 e até mesmo House e Hip-Hop dos 90. Tudo isto assente em alicerces jazzisticos bem firmes e com um conhecimento não só antológico mas apaixonado. É neste sentido em que poderíamos dizer que Ed Motta é “Post-Pop”, “Trans-Pop” ou “Pan-Pop” como lhe quiserem chamar.
Ed Motta, pré-sinto, ainda não cumpriu totalmente o seu destino, muito embora Dwitza seja, para mim e para muitos, um clássico precoce da música de vanguarda feita no Brasil. Falta ainda o “Eureka final”, a descoberta da “formula” que tornará o seu trabalho imortal porque imediatamente identificável, não pela sua distinta voz mas pela concepção em ela mesma, permitindo que saibamos identificar o compositor mesmo quando interpretado por outros (como acontece com João Bosco, Chico Buarque, Djavan, etc).
Actualmente, menos interessantes são para mim, as letras à que por vezes certas canções, magníficas, de Ed acabam por ser condenadas. O problema parece-me ser das escolhas das parcerias: Rita Lee, Zélia Duncan, Chico Amaral, Nelson Motta, povoam as músicas de Ed Motta de um mel demasiado adocicado. Algumas letras de amor, de tantos lugares comuns, chegam a ser embaraçosas. As coisas compõem-se um pouco com Ronaldo Bastos e Lulu Santos, mas... (ah se o Ed me pudesse ouvir), sugeria-lhe para letristas Aldir Blanc, Paulo César Pinheiro e por não Chico Buarque. Alguns dirão que estes são letristas mais associados ao Samba, bossa nova e suas tendências. É Justamente por isso, por esse contraste que, pelos menos na minha imaginação, seria um casamento perfeito, até porque com todo aquele som funk vanguardista do Ed fazem falta letras com uma certa “malandragem brasileira”.
Da sua discografia os meus favoritos são: “as segundas intenções do manual prático...” e o já citado e imprescindível “Dwitza” este não só pelo vanguardismo e sonoridade ( uso de instrumentos analógicos dos anos 70) mas pelo momento de inegável inspiração. Daqueles discos que dão a sensação, obviamente falsa, que nenhum produtor, nem nenhuma “label” os conseguiria estragar.
Ed tem um site maravilhoso:
http://www2.uol.com.br/edmotta.
PS - Amanhã há Roy Ayers na casa da pesca de Oeiras, inserido no festival Cool Jazz Fest.
Actuação a não perder, até porque pese embora a sua “ubiquidade” ( Ubiquity era o nome do seu grupo nos anos 70), que eu me lembre, o mestre do funky vibrafone, nunca por cá passou.
Fica aqui o compromisso de falar do espectáculo e usa-lo como motivo para rever o artista.